sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sobre o abortamento como bandeira ideológica e outras práticas...

Sabemos, como sociedade formada e informada, que diversas ONG's nacionais e (sobretudo) internacionais fomentam a formação de grupos sistematicamente organizados para divulgar, defender e promover estas práticas no país. Entretanto, é publicamente conhecida a aversão da maioria da população brasileira a tais práticas.

É ainda conhecida a série de discussões filosóficas e científicas acerca do começo e do fim da vida. Gostaria de situar um pouco daquilo que honestamente posso observar acerca do conceito de vida. Desde quando o ser humano existe sobre a superfície terrestre, o desenvolvimento da civilização tem se mostrado nos momentos em que ele se nota um ser para os outros. De fato, o próprio surgimento daquilo que comumente se chama natureza, procede de acontecimentos fisicamente improváveis e decorre de uma série de fatores assim notados pelas ciências físicas que conferem um equilíbrio ainda não totalmente compreendido. Dentro da dinâmica do processo de desenvolvimento orgânico da assim chamada natureza, a própria irrupção do homem e sua permanência como ser a ela integrado é algo ainda mais improvável, procedente de um profundo exercício da vontade, da inteligência e dos sentimentos. Foram tais elementos que levaram o homem a uma verdadeira batalha, não diria contra a natureza, mas em profunda tensão com ela. As relações do homem com a natureza nem sempre foram das mais harmoniosas, mas houve, por longos e longos séculos, a compreensão de que essa tensão exigiria uma série de atitudes, que hoje, com a compreensão que temos, poderíamos chamar de sacrifícios.

De uma forma geral, a manifestação das propriedades dos elementos da natureza são uma maneira sacrifical de existir, onde aquilo que não era expresso, passa a ser expresso, nomeado e caracterizado pelo homem, em função de transformações as mais diversas, que viriam em favor de um devir. O que seria esse devir?

Não é difícil afirmar que estamos diante de um esforço para a preservação da espécie humana e de um cuidado especial para com a prole. Ou seja, ao longo do desenvolvimento orgânico da consciência humana sobre a superfície terrestre, esta apontou para o fato de que o homem provinha de um sacrifício e estava destinado a isso se quisesse ver a alegria de sua família, de seu clã e de sua nação. O desenvolvimento das civilizações se deu quando essa consciência estava aguçada e firmemente estabelecida  no seio da sociedade. Quando essa consciência se desligava desse fato, sérias inflexões ocorriam, como acontecera no Império Grego e no Império Romano.

O desenvolvimento da cultura, das ciências e das artes no Ocidente seguiu essa linha de ação e de consciência e a maioria das realidades que dizem respeito ao desenvolvimento científico e tecnológico de que hoje desfrutamos se deve a esse papel da civilização ocidental.

Com esses parágrafos, gostaria de afirmar primeiramente: o homem é uma realidade de sacrifício. Surgiu através de um, sua vida encontrará significado nas diversas entregas de sua história, até que venha, se assim permitido, expirar no sacrifício último de sua vida, tendo exalado nos seus últimos dias sabedoria para as gerações em função das quais este ser foi sacrificado do começo ao fim.

Porém, vemos aqui o homem sacrificado, mas ao redor dele, se assim podemos nos expressar, temos um jardim: uma juventude (seus filhos e netos) cheia de significado, encontrando nas diversas realidades aquela saudável tensão com a natureza e com seus pares; obras as mais diversas, seja nos serviços mais simples, seja no desenvolvimento da ciência e da tecnologia, seja no atendimento a doentes e agonizantes, seja ainda na transmissão do conhecimento, seja enfim no envolvimento positivo em decisões políticas que levem seu país a se tornar um modelo de humanidade para todas as nações. O que brevemente quis expor aqui é que essa realidade sacrifical de onde o homem vem (gratuitamente, por meio de um ventre feminino) e para onde se destina (naturalmente, através de uma vida sábia) não permite, honestamente, dizer que a vida pertence a si.

Também não pertence à arbitrariedade dos Estados, como já se pode observar em certos países (que não demoram a entrar em colapso). Diria que a vida é algo maior do que o homem, que ela contém o homem, mas que este jamais pode dispôr dela. No sentido de que, quanto mais conhecemos algo acerca da vida, mais percebemos que temos muito a conhecer, uma conclusão natural deste fato é a de que a vida é um mistério. Definir a vida, esquadrinhar a vida, encapsulá-la ou, por fim, esquartejá-la é algo cujas consequências mais radicais podem não ser controláveis em médio prazo.

Quando afirmo isso, penso, por exemplo, no Império Romano, que, depois de períodos de pujante riqueza, mas de profundas arbitrariedades sobre a vida, sobre quem deveria viver ou não, começou a entrar em grande colapso, até o momento em que os bárbaros, vindos do norte da Europa, saquearam-no por completo, e este continente teve de conviver, pelo menos, 200 anos num universo de falta de sentido para o ser humano, e completa desagregação social. Poderíamos elencar algo de certos abusos que ocorreram quando membros do clero europeu, pelos idos dos 1400 aos 1600, também assim interpretaram certo domínio sobre a vida e mesmo as instituições eclesiásticas passar, por sérios colapsos entre os séculos XVI e XVIII. Porém, as mais horrendas manifestações de arbitrariedade encontraram suas expressões nos regimes nazi-fascistas e comunistas do século XX. Os primeiros, além de matar mais de 6 milhões de judeus, além de outros inimigos do regime, conseguiram energizar uma grande guerra em que outros tantos foram vítimas, num desejo insano de estabelecer uma hegemonia racial. Os outros, já desde a revolução bolchevique até as demais herdeiras, conseguiram destruir cerca de cem vezes mais vidas do que os regimes nazi-fascistas ou quaisquer outros. Bem, hoje vemos países extremamente pobres (como Cuba, Albânia ou Coréia do Norte) ou extremamente caros (como a própria Rússia) ou extremamente opressores (como a China).

Trocando em miúdos, independente da corrente que se siga, dispor da vida alheia é sempre um risco para a própria nação. Mesmo que um cidadão não venha a acreditar num devir após seu período de existência na terra, pode-se pensar num devir aqui. A idéia de dispor de vidas, decidindo-se sobre quem devia viver ou não, proveio não raras vezes da idéia de construir  uma vida com qualidade perfeita na superfície da terra. Até hoje, com tudo isso, não conheço nação que a tenha encontrado, pois, mesmo quando se chega a níveis máximos de IDH, o índice de suicídios (assistidos ou não) também os acompanha... Ao menos, assim acontece nos Flandres e na Escandinávia.

Fala-se, pois, do direito da mulher. Diz-se de que ela é dona do próprio corpo. Não entendo que seja, como eu, um homem, também não o sou. Ainda que fosse dona, um nascituro, um zigoto, um embrião, um feto, um bebê, não faz parte de seu corpo. É outro ser, traz em si todas as informações genéticas que o irão individuar. Mesmo que o corpo da mulher lhe pertencesse, a criança não lhe pertenceria.

A propósito, há pouco dizíamos algo sobre sacrifício. Há sacrifício que gera vida, que planta um verdadeiro jardim no universo; há também sacrifício que gera morte e desgraça. Como realizar um aborto e sentir-se com a consciência livre, capaz de juistificá-lo e até defendê-lo? A realidade observada é que a maioria das mulheres que o fazem, voluntariamente ou não, trazem uma marca terrível em sua consciência e prefeririam esquecer daquele momento de sua história. Mas isso é impossível.

Eu arriscaria responder à pergunta: somente quando há uma resoluta e inarredável decisão em afirmar, até onde é possível ao ser humano, que a vida pertence a si, ou seja, ele é maior do que a vida. Se é maior de que esse mistério, o que mais seria mistério? E o que mais seria inextricável e mesmo respeitável? Essa auto-afirmação seria o princípio do colapso civilizacional.

As instituições que, por outro lado, fomentam o infanticídio (igualmente a eutanásia) estão movidas por propósitos que estão além de minha compreensão, mas parece muito coerente com a prática vigente de só preservar aquilo que tem valor agregado a curto prazo. Crianças (a depender de como elas venham ou de como as mães fiquem) e idosos não são assim para tal lógica. E mais uma vez, decide-se sobre quem deve ou não viver.


Um comentário:

Roselia Bezerra disse...

Olá, Emerson
Infelizmente estou bastante acostumada a que vença o mal... a falsidade... a mentira... o engano... a delinquência... o mau caráter... etc...
Sonhamos alto em imaginar que a VIDA EM ABUNDÂNCIA vai vencer numa sociedade da qual fazemos parte com a nossa omissão e o nosso descaso com a vida em suas diversas manifestações...
Mas sabe de uma coisa, amigo???
Ainda sou cheia de "utopia"... acredito na força do bem sobre o mal e na conversão do nosso coração... um dia seremos a Imagem e semelhança de Deus... oremos!!!
E aí, a VIDA vai "imperar"... ela vai vencer a morte... prosperar... frutificar... se DEUS QUISER...
Abraços fraternos de paz