Por quantas vezes esperamos um sinal de Deus...
No Evangelho que a Liturgia nos propõe hoje, Jesus joga um banho de água fria sobre os que lhe seguiam esperando sinais. É verdade! Havia muitos grupos que esperavam um Messias, cada um à sua maneira, cada um tendo expectativas de sinais maravilhosos. Alguns esperavam que fosse destronar os governantes romanos de Jerusalém. Outros esperavam curas, sinais no céu, tais como relâmpagos, vozes, ou ainda erupção de vulcões, como se relata na Tanach (o Antigo testamento). João e Tiago chegam a perguntar a Jesus se Ele não desejaria que caísse um fogo do céu sobre os samaritanos que não os receberam... Jesus os repreende.
Diante da populaça eufórica, Jesus diz: "esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas. Com efeito, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração". Palavras duras...
Nessa hora, Jesus, dizendo palavras que não agradam a ninguém, aponta para seu Mistério. O que diz a história (ketuvim) de Jonas? Ele fugia de Deus, que o havia enviado para Nínive, indo para Társis, num navio. Bela hora, ele teve de se jogar da embarcação para o mar, pois sua desobediência havia transtornado a viagem daqueles marujos com tempestades e mar revolto. Ao se jogar no mar, Jonas, de algum modo, se despe de seu orgulho e simplesmente joga-se no desconhecido de Deus e de si mesmo. Deus tem misericórdia dele e manda-lhe um peixe para o engolir e não ficar à deriva. Ele fica três dias e três noites ali. Ele reza, agradece a Deus: "Na minha angústia clamei por socorro, pedi vossa ajuda do mundo dos mortos e vós me atendestes" (Jn 2,3). Na escuridão, quando se deparava consigo mesmo, em seu nada radical, quando nada estava mais em suas mãos, Jonas louvou a Deus de verdade: "quando minhas forças em mim acabavam, lembrei-me do Senhor, chegando até vós minha oração" (Jn 2,8).
Jonas experimenta aquilo mesmo que o salmista canta: "seu descer ao fundo dos abismos, ali estás presente; se eu chegar a habitar o fim dos mares, mesmo lá me vai guiar a vossa mão e proteger-me a vossa destra" (Sl 138).
Jonas e o salmista são imagens de Cristo. Crucificado, desce à mansão dos mortos e ressuscita ao Terceiro Dia. Cristo se faz um Nada para nos tornar tudo o que precisamos nos tornar. Cristo visita o nosso Nada para que sejamos como Ele, nEle, Um com Ele. Quando diz que não outro sinal senão o de Jonas, lembra-nos de que o nosso Nada é o que há de mais precioso, aquilo que jamais deve ser abandonado, porque é justamente o lugar da manifestação de Deus. Não serão sinais fantásticos que deveraõ mover a vida dos iniciados na graça, mas o sinal de que o Verbo de Deus se fez um de nós, conosco e em nós. Em outra passagem mais adiante, vai dizer "Chegarão alguns dizendo 'ele está aqui, ele está ali'. Não devereis crer nessa gente. (...) O Reino não vem ostensivamente; Ele está dentro de vós!" E isso Jesus diz em referência a que o seu Reino é uma realidade que começa no interior do homem, qual semente jogada no interior da terra.
Se ainda procuro um sinal visível ainda estou preso ao meu exterior. Não consigo vislumbrar o Reino, nem mesmo o fato de que Ele habita meu Nada. É preciso chegar ao Nada para que seja Ele nosso Tudo, e Ele mesmo seja Tudo em nós.
Os santos ascetas lembraram muito bem dessa realidade. Santo Antão diz a seus filhos espirituais que por motivo algum deve sair de sua cela. A cela é o lugar do combate, da experiência do Nada. São Francisco de Assis vai lembrar que a verdadeira alegria é bater a uma porta em uma noite escura e fria e essa porta não ser aberta. São João da Cruz lembra que Deus, nesse mundo, é, nada mais, nada menos, do que uma Noite Escura. São Gregório de Nissa lembra ainda que nossa única perfeição está na imperfeição.
Caminhamos na esperança. São Gregório Magno lembra que o tempo da Igreja, esse tempo nosso, dos grandes combates espirituais, é o tempo da aurora. Ainda não vemos claramente, mas no horizonte o brilho do "Sol nascente de justiça" nos atrai e nos faz esperar com quietude vigilante o sol que há de brilhar sobre nossos corações e nossas almas.
Meus caros, feliz serei eu se compreender isso. "Felizes os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus" (Mt 5,3).
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