sábado, 28 de agosto de 2010

Continuando a aproximar Jesus e as crianças - I

Pe. José Clécio é padre diocesano de Campos dos Goytacazes, RJ. Acompanho muito suas posições, seus esclarecimentos, e, exatamente num tempo em que faço muitos questionamentos sobre a Primeira Comunhão de meu filho (dado que "idade da razão" é um termo muito em aberto a abre diversos precedentes para que a consideremos cada vez mais precoce), este Rev. Pe. nos brinda com uma belíssima reflexão da qual compartilho em gênero, número e grau, e que, já estando em curso em nosso lar, deverá ser aplicada em breve, se Deus quiser.

Assim, seria interessante que lessem, refletissem e até compartilhassem comigo algo da experiência de vocês, antes e depois dessa leitura. Ela foi importada do blog do Rev. Pe., http://oblatvs.blogspot.com . Também em nosso blog, pouco mais abaixo, há algumas reflexões recentes que postei sobre paternidade e transmissão do Espírito, bastante coerentes ao contexto. 

Bem, sem mais delongas, segue o texto. Em continuação a ele, há um texto dos sacramentos ministrados pelos orientais e está no blog (http://oblatvs.blogspot.com/2010/08/uma-reflexao-pessoal-e-um-artigo-sobre.html). Boa leitura!
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Uma reflexão pessoal e um artigo sobre os sacramentos da iniciação

A prática atual tende a retardar sempre mais a primeira comunhão. Se prevalece a prática de administrá-la às crianças por volta dos dez anos, já encontrei quem o faça somente aos doze! Não falta boa intenção aos que pretendem incutir uma sólida formação cristã aos que vão receber o Sacramento, mas a prática ignora, a meu ver, aspectos importantes da questão.
A legislação em vigor estabelece que é dever dos pais ou responsáveis e do pároco que as crianças que atingiram o uso da razão sejam preparadas e, o quanto antesquam primum, admitidas à comunhão (cân. 914).
O cân. 913 esclarece que a preparação das crianças deve levar em consideração sua capacidade própria. Devem ser cuidadosamente preparadas de modo a adquirir um conhecimento suficiente do mistério de Cristo e a receber seu Corpo com fé e devoção (§ 1), embora in periculo mortis exija tão somente que possam discernir o Corpo de Cristo do alimento comum e recebam-no com reverência (§ 2).
Nossa contribuição, na condição de iniciadores, é dar o suficiente, o necessário e o próprio à idade daqueles que estão apenas começando a vida em Cristo. Não queiramos alçá-los à condição de Mestres em Israel. Tempo haverá, se fizermos bem nosso trabalho, para dar-lhes alimento mais sólido na medida em que crescem. Paradoxalmente, quanto mais tempo se exige de catequese menos coisas sólidas se ensinam às crianças. Certas aulas se afiguram exageradamente “infantis” mesmo às próprias crianças e, também por isto, muitas delas desistem de percorrer um tão longo caminho por tão pouco.
A excessiva ênfase na catequese prévia, que leva a postergar sempre mais a primeira comunhão das crianças, não deixa de exalar o mau odor protestante, este terrível espírito que tem contaminado o ambiente católico. Se retirarmos todas as conclusões de suas premissas chegaremos à prática herética dos protestantes e negaremos também o Batismo às crianças.
Parece haver, quando muito se insiste em tudo ensinar previamente, uma confissão de nossa incapacidade pastoral de oferecer às crianças, aos jovens e aos adultos uma catequese permanente, posterior aos sacramentos recebidos. Estamos como a dizer que se não vêm a nós a fim de progredir no conhecimento dos mistérios da fé, chantageamo-los com os sacramentos. Esta tem sido uma constante também no que diz respeito aos demais sacramentos: é curso para tudo e não demora exigiremos dos moribundos um curso prévio à recepção da Extrema Unção!
Outro fator desconsiderado é a capacidade das crianças de conhecer através de uma linguagem que não seja a verbal. Não raro demonstram uma intuição bem mais profunda dos mistérios de Deus que a de muitos adultos, ainda que não saibam exprimi-los em formas conceituais. O próprio Deus lhes fala à alma direta e compreensivelmente numa linguagem desconhecida aos que somos carnais. Curiosamente, nossas crianças demonstram hoje menos conhecimento suficiente e menos devoção que as de antigamente - e não culpemos os tempos. Lembro-me de muito pouco do dia de minha primeira comunhão, mas não me esqueço da posição das mãos, da comunhão de joelhos e na boca, do jejum eucarístico e da proibição de mastigar - estas prescrições simples incutiram em mim a consciência de que recebia algo sagrado e completamente distinto de um alimento comum.
Retardar a administração da Sagrada Comunhão às crianças, além do estabelecido pela Igreja, é privá-las de uma graça no momento em que o mal já se insinua com toda a sua força. Muitas crianças, pré-adolescentes como os chamamos, já se afastaram de Cristo e de sua Igreja naquela idade que alguns consideram ideal para a comunhão.

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