quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sobre o drama da homossexualidade e outros dramas hodiernos

E não é porque alguém não é homossexual que não pode inferir algo sobre algum assunto. Afinal de contas, um pode ser homossexual, outro pode ser irviolento, outro pode ser guloso, outro ainda depressivo e ainda desonesto ou ter uma outra dessas características. Ou seja, cada um tem seus dramas e sei que os homossexuais também têm os seus.

É no lidar com os próprios desequilíbrios (e isso todo homem tem) que o homem aprende a escutar os dos outros e perceber que há dramas associados a eles. Trata-se, entretanto, de observar a natureza e a essência dos seres e dar-se à verdade acerca dos mesmos, e não ficar sujeito a percepções subjetivas que só alimentam os sentidos. Aliás, o fenômeno da homossexualidade acontece unicamente dentro de uma sexualidade globalmente doente, o que também vale para certa heterossexualidade em questão. Perceba, pois, que minhas colocações sobre a homossexualidade não têm exatamente um foco apenas nela, mas na sexualidade como um todo. O problema é que a sexualidade de nossa cultura está toda doente, alimentada pelos anseios do mercado e das ideologias pós-jacobinianas, pós-marxistas e pós-niilistas, desembocando num relativismo cultural exacerbado e sem fronteiras, com apoio de uma mídia, de uma ONU e de governos por demais imbuídos dessas causas.

O problema é: posso fazer o que quero com meu corpo? Muitos aqui respondem sem pestanejar a essa questão. E as supracitadas instâncias sócio-políticas chancelam essa resposta. É o que chamamos de cultura do "politicamente correto". Mas a pergunta mais uma vez não quer calar: "posso fazer o que quero?"

A resposta reflete o quanto estamos reféns do corpo. E veja bem: não é alguém que não tem fantasias e exigências do corpo quem vos fala. Não se trata de não sentir essas coisas, seja com relação a alimento, sexo, atividade física, afetiva, etc. Não se trata de um platonismo que se mede no abandono do corpo, como se ele fosse uma prisão à alma.

Trata-se de uma subordinação necessária para que o homem encontre o seu Real: a subordinação do corpo (onde os fatos acontecem) à alma (onde as decisões acontecem). Caso o contrário se estabeleça, o homem já não é homem; é apenas um animal dotado de uma sub-razão. E o que é a sub-razão, senão a razão subordinada ao corpo. Pobre do homem: de nada lhe adianta ter uma razão assim. Seria melhor não tê-la ou mesmo ser um outro ser. Mas não é, e aí é que se encontra o problema e o desequilíbrio.

Mas e a razão? Seria dona de si mesma? Seria soberana de todas as decisões acerca do corpo? Pode ser que a razão se engane muitas vezes acerca das decisões a tomar acerca do corpo. Pode mesmo ser enganada por ele. A razão em absoluta soberania pode ser escrava de si mesma quando não da fantasia. Somente uma razão aberta e em relativa soberania é que pode seobreviver enquanto tal, sob pena de se degenerar. A razão só pode sê-la quando aberta ao Outro. Ou seja, há elementos externos que a razão necessita assimilar para ser o que foi destinada a ser.

Primeiramente, o outro está nos pais (= casal homem-mulher, objetivamente), naturais formadores da razão na criança. Mas os pais não são tudo. Há um momento em que a sociedade terá sua importância. Aí estarão a escola, a universidade, a religião, o ambiente de trabalho, a natureza. Mas isso também não é tudo. Há um momento na vida apartir do qual é necessário silenciar para que a razão assuma sua verdadeira maturidade. É verdade que para aprender algo com todas essas instâncias foi necessário silenciar e até mesmo obedecer para só depois perceber os efeitos de tal atitude. Por vezes, nossa vontade quis se impôr por causa de nosso medo de deixar de ser quem somos. Mas na realidade, só aprendemos a ser o que somos perante o outro, como diria Emanuel Lévians, ou melhor, perante o Outro.
E para que esse silêncio? Não se trata de ficar zanzando por entre as emoções, frustrações e carências de si próprio, embora também seja interesante escutá-las, mas elas ainda não têm o veredito.

Há um Nada em nós que precisa ser percebido. E ao sê-lo é que começa a aventura da maturidade. Há como que uma garganta do tamanho do universo aberta e esperando ser preenchida. Certamente esse sentimento já aconteceu quando a mãe negou uma bala na infância, ou quando uma mulher nos disse "não", ou ainda quando estivemos sem emprego ou não fomos compreendidos em nossa família ou comunidade. Mas agora já naõ se trataria de visões do Nada, mas o próprio Nada. O Nada que sou, o Nada que minha alma é, o Nada que ainda mais justamente é o meu corpo.

Essa foi, por exemplo, a compreensão de Buda ao ver aquelas imagens de um doente, de um velho e de um cadáver. Pois bem, penetrar no Nada é perceber que se é humano. Eis a Verdade sobre o homem: ele é Nada! E tudo o que seu corpo produz pode estar fadado a se dissolver em nada. Mas isso é uma visão terrivelmente desoladora. Não será por isso que nossa humanidade procura nas consolações do corpo a fuga do nada? Não será a doença da sexualidade ferida de nossos tempos um sinal de desespero? Não será o fenômeno hodierno da homossexualidade um sinal de que as próprias relações estão em crise? E assim, por diante, sexo sem prole, prole sem sexo, tudo à mercê do bel prazer do hipotálamo. Ao mesmo tempo, não será por isso que o Ocidente busca nas religiões orientais uma certa fala sobre o nada, sobre o Nirvana, que aliena dos deveres presentes, inclusive para com opróprio corpo, mas já aí distorcendo a mensagem de Buda?

Mas o nada... o nosso nada, apesar de necessário,... não é tudo. Por longos séculos, o Ocidente teve a oportunidade de aprender que nosso nada é amado. Não precisa ser explicado, não precisa ser esquadrinhado. Precisa ser assumido. Mas a capacidade do homem assumir seu nada é pequena. Nessa hora, ele está encurralado - tem de se entregar: ou ao desespero ou à fé. Pronto: agora o homem está diante de questões verdadeiramente fundamentais: ou se desespera e perde tudo o que pensava ter ou crê e entrega tudo o que ainda tem para recebê-lo ao cêntuplo...

A fé é a instância do jogar-se, de verdadeiramente abrir à razão a uma realidade que ela pode até conhecer, em certo sentido, mas jamais esuqadrinhá-la por si só. A fé, nessa hora, abre caminho para que a razão encontre seu verdadeiro sentido e mesmo seu agir honesto. Se se opta por isso, a razão agora há de se subordinar finalmente à fé.

É na fé que o homem encontra sua medida. Ele sabe que é nada, mas há agora uma diferença: seu nada é amado. E amado por quem? Por Deus? Seria assim que responderia o homem moderno? Talvez titubeasse muito em responder. Responderia facilmente que pode fazer o que quiser com o próprio corpo (na verdade, a essa altura, o corpo manda nele), mas nessa hora a resposta desaparece. Somente a fé responde. E fé é aprendida em comunidade, onde essa escuta se dá no aprendizado do amor que aí é derramado. E não é primeiramente nosso amor não. É o amor de Deus.

Mas vamos ao concreto disso tudo: o Ocidente aprendeu isso e deve tudo o que tem a uma cultura formada dentro dessa fé. Deus entrou na carne humana, assumiu nosso nada e se fez Nada. É na carne crucificada de Cristo que todas as nossas elucubrações sobre Deus se mostram pequenas, porque o aparente absurdo está ali. É exatamente o que muitos de nós afirma: não pode ser Deus ali. É justamente no aparente absurdo que se dá a graça. Cristo entra profundamente do Nada que ser humano algum deseja estar: o Nada da ausência de Deus. O homem não agüenta isso (sozinho!). ELe precisa de uma referência para continuar, mesmo que seja uma devoção, mesmo que seja uma idéia de Deus, mesmo que seja a razão fechada em si, mesmo que seja a natureza, mesmo que seja o corpo. Deixar tudo só é possível se o Impossível acontecer: Deus entrar na história de maneira radical e indelével.

Tudo isso é para dizer que nossa cultura, fechada sobre a razão e já mesmo sujeita ao corpo e suas fantasias perde seu sentido de ser, se não se abre ao Espírito, a um Sopro que não nos pertence, mas nos conhece e nos ama mais do que nós a nós mesmos. A doença da sexualidade, onde se encontra o hodierno fenômeno das ideologias de gênero (?!?), bem como de toda a nossa cultura está em não dar espaço a Ele.

É por essas e outras que a Igreja, desde seu fundamento, que é Cristo, passando pela sua doutrina, sua Tradição, seu magistério, seus membros hierárquicos até seu povo, simples cristãos, que no dia-a-dia procuram dar testemunho do Amor que gera e regenera o homem, não cessa de dizer isso: "é pela sua graça que somos salvos!" Só por Ele, somente com referência a Ele, encontramos a medida do homem e a cura. Pode ser que ainda a vida de cada um de nós esteja em processo de cura, mas a esperança é que a move, dia após dia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Me desculpe, o Senhor introduz em seu texto muitos assuntos que não forma aprofundados. Peço o Senhor se ater ao que realmente pensa sobre a homossexualidade enquanto tal. Caso contrário, o seu texto se torna fugidio, simplista sobre a questão e dogmático. Não está aberto a nenhum tipo de discussão, uma espécie de falácia lógica, onde o debate já está ganho por sua parte. Nesse sentido, o Senhor é mais Nazista e Xiita que possa parecer. Abra-se ao diálogo, talvez isso lhe irá fazer um pouco de benefício e lhe permitiria colocar em prática sua caridade cristã ou ouvir a posição do outro. Quanto a questão da sexualidade doentia, concordo em número, gênero e caso, porém o Senhor se esquece de colocar uma outra premissa no começo do texto, de que as ciências naturais e não a teologica, a que o Senhor se apega, não considera o homossexulismo como doença. Isso faz do Senhor um retrógrado e enfiado em uma esferar completamente alienada, no dizer bem marxista, a que o Senhor debocha e se alude. No fundo, eu ainda não entendi que time o Senhor torce, seja na sexualidade, seja na política e na própria religião. Eu acredito que o Senhor conheça o Catecismo da Igreja Católica... não é mesmo. Nem o Papa foi tão ridículo quanto o Senhor. Dê uma lida sobre a questão do homossexualismo. Infelizmente, intelectuais como o senhor, fere o livre pensamento e o debate proficuo, condenando toda a humanidade a uma prisão racinal fincada não na Sagrada Escritura, mas na tradição puramente puritana e sectarista. Acho melhor o Senhor fazer como Lefevre, por favor, nos faça um favor: Funda uma Igreja igualzinha a dele. Talvez o Senhor consiga ser mais feliz! Um grande abraço e em seu próximo texto, seja mais lógico e coerente, debate sobre um único assunto! Até mais!!