"Felizes os olhos que vêem o que estais a ver!" (Lc 10,23)
Ver o que o mundo não vê!
O Evangelho de hoje nos põe nesta esteira que nos leva ao Presépio, da mesma forma que nos leva ao Cristo glorioso do Fim dos Tempos, fazendo que já aqui e agora o vejamos, o contemplemos. A grande beatitude que Jesus declara hoje é de ver o que muitos desejaram ver e não viram. Com certeza (já meditamos sobre isso mês passado), haverá um dia em que todos verão, mas, para alguns, espero que para muito poucos, Deus deseja que para ninguém, esse dia será uma surpresa, virá, como diz Jesus no Evangelho, como um ladrão.
Ver hoje, com os olhos surpresos, admirados, cheios da certeza de eternidade do amor de Deus, aquela obra que Ele iniciou por seu Filho, em todas as circunstâncias em que vivemos, é já viver um pouco do céu. Tê-lo diante dos olhos do coração é tê-lo, sim, em esperança, mas já como uma Realidade presente que funda a todas e nos proporciona lançar um olhar com verdade para a Realidade.
Como é belo escutar o sonho dos antigos profetas... Vejam Isaías na leitura de hoje:
<<O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos, e um menino os conduzirá. A vaca pastará com o urso, e as suas crias repousarão juntas; o leão comerá palha como o boi. A criancinha brincará na toca da víbora e o menino desmamado meterá a mão na toca da serpente. Não haverá dano nem destruição em todo o meu santo monte, porque a terra está cheia de conhecimento do SENHOR, tal como as águas que cobrem a vastidão do mar.>> (Is 11)É um sonho, uma visão, um desejo de paz. Ele pôde vislumbrar o dia em que se cumpriria a justiça do Senhor, onde a própria criação seria pacificada em todos os seus movimentos, por um único motivo: "a terra repleta do CONHECIMENTO DO SENHOR!" Essa terra, antes de ser o Universo inteiro (também o é!), é, antes de mais nada, o nosso coração, a nossa vida, a nossa história, pacificada pelo conhecimento do Senhor, pela nossa relação com Ele, pela nossa percepção de sua presença, mesmo na mais profundamente aparente ausência. É ver a beleza, onde tudo parece tão feio, ver a verdade falar por detrás das mentiras, sendo estas desmascaradas aos nossos olhos, ver a bondade em meio à crueldade de nossos tempos, ver a graça agir sobre nossos pecados.
E isso é dom de Deus. Na mesma passagem evangélica, Jesus diz, estremecido de alegria no Espírito Santo:
«Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.»
O coração simples, o olhar sempre voltado para um Todo-Outro, um Todo-Além de minhas expectativas, um Todo-Ser e Todo-Poderoso é que nos pode dar essa alegria no Espírito, a percepção de que os abismos e as montanhas de nossa existência estão todas sob o poder de Deus, através de seu Cristo.
Que nos dê o Pai a medida de nosso conhecimento dEle, pela ação de Cristo! Que o Natal seja para nós essa ocasião privilegiada de celebrar, depois dessas quatro semanas de Advento, essa alegria de ver em todas as obras o conhecimento e a Presença do Senhor. Aquele menino que aparecerá no Presépio contém em si toda a Sabedoria escondida, então revelada para a Vida do mundo.
Nosso Pai São Bento, no Capítulo VII da Santa Regra, lembra que o primeiro degrau da humildade é ter Deus sempre diante dos olhos. O salmista (Sl 110) concorda com ele: "Temer a Deus é o princípio do saber!" O princípio do saber, do conhecer do Senhor, é Tê-lo diante dos olhos de nosso coração. Pois bem, Jesus hoje exulta como um menino, um filho, o Filho, que se alegra com seu Pai, a quem conhece e ama. Alegremo-nos nEle e por Ele com o Dom do Pai, o Espírito Santo, unção de alegria para nós, "Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de conselho e de fortaleza, Espírito de ciência e de temor do SENHOR"! (cf. Is 11).
Um abraço a todos, compartilhando a alegria, que não é como as alegrias do natal do mundo, mas uma alegria, que para além de toda expectativa meramente humana, é esperança, penitência e vigilância na oração, que compreendem este privilegiado Tempo, porque revelam a Presença Viva, que reside no meio de nós. Como canta Pe. Fábio de Melo: "Enquanto espero a sua volta, eu volto aqui". Quem ama, espera, porque sabe da certeza do Amor que lhe transcende. A raposa do "Pequeno Prínicipe", de Antoine de Saint-Exupéry, disse que se o principezinho chegasse às cinco da tarde, às quatro, essa raposa estaria ansiosa, cheia de alegria, porque ele estava para chegar, porque ele a havia cativado. Isso é o que significa esperar na presença!!! É esperar sabendo que nosso coração já foi cativado e conquistado por Ele. A raposa diz sabiamente: "Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas". Que lição essa a da raposa!!! Esperar é permanecer, é estar aí, é já curtir a presença, vivenciá-la, voltar sempre, porque maravilhosa a nossos olhos, os olhos de nosso coração! Ele nos cativou, Ele se mostrou responsável por nós!!!
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