Para D. Demétrio, a Igreja da China, aquela mesma que mantém os católicos fiéis ao Papa em regime de clandestinidade é exemplo para a Igreja em todo o mundo. Lá vai (haja estômago):
A CHINA
Dom Demétrio Valentini
27 de maio de 2011
Nestes dias Bento 16 pediu para rezar pela China. Estabeleceu a festa de Nossa Senhora Auxiliadora, 24 de maio, como dia de oração pela China.
Na política internacional, não se costuma rezar por ninguém. Ao contrário, o que se pratica entre os países é uma rígida concorrência, cada um tentando tirar vantagens dos outros. Aliás, a China vem se mostrando eficiente e ousada no uso desse expediente, aproveitando bem o fato de ter sido admitida, recentemente, entre os países que se comprometem a seguir as normas do comércio internacional.
O problema é a situação interna da China. Ela sabe tirar proveito de suas excepcionais vantagens comparativas, sobretudo pelo número impressionante de sua população. São mais de um bilhão e trezentos milhões de chineses. Com uma cultura milenar que valoriza o trabalho, podemos imaginar quantos estão à espera de um emprego nas novas indústrias que vão se instalando na China, para explorar sua mão de obra barata.
Além deste fato, a China soube integrar e colocar a serviço de sua economia duas dimensões que pareciam contraditórias: a rígida disciplina do regime político herdado do comunismo que ainda permanece, e a abertura econômica proporcionada pelo capitalismo, praticado na China sem respeitar as conquistas sociais obtidas pela classe trabalhadora nos países ocidentais.
A China mistura comunismo de estado com capitalismo de mercado, e tira proveito dos dois. Mantém um rígido controle das demandas sociais da população, e escancara as portas para a chegada de capitais estrangeiros, a quem oferece garantida de salários baixos e rígida disciplina social.
Assim fazendo, a China se torna em fator altamente desequilibrador do comércio internacional. Explorando sua abundante mão de obra, e coibindo avanços sociais, pode facilmente oferecer produtos com preços muito mais baixos do que os provenientes de países que precisam arcar com os custos das justas demandas já consolidadas dos direitos trabalhistas e das obrigações sociais das empresas.
Certamente, a oração que o Papa pediu não é para mudar este quadro preocupante da influência negativa da economia chinesa no mercado mundial. Pois aqui se poderia inverter a afirmação de Cristo para os apóstolos que não tinham conseguido expulsar o demônio teimoso de um pobre menino. "Esta raça de demônios só se expulsa com muita oração”. Com a China é o caso de dizer: esta exploração do trabalho humano só se combate com muita conscientização dos trabalhadores e com a justiça e solidariedade entre os povos.
Mas existem, sim, outras situações da China que nos convidam para a oração, que abre caminho para a aproximação amigável com este grande país, de rica tradição cultural e de enorme potencial humano.
A começar pela esperança que representam os quatro milhões de cristãos chineses, que experimentam de maneira muito peculiar as tensões políticas do regime chinês. Seu número parece inexpressivo. Mas é significativo.O governo chinês reconhece a Igreja Católica como uma das quatro expressões religiosas autorizadas no país. Isto não é nada desprezível, e abre caminho para esperanças que ainda permanecem.
De resto, a relação da China com a Igreja Católica remonta a cinco séculos. Depois de passar longos anos conhecendo a cultura chinesa, o Pe. Matteo Ricci, no século 16, se deu conta que a Igreja deveria assumir as características culturais do povo chinês. Infelizmente não foi compreendido.
Agora o governo chinês pretende ser ele a nomear os bispos. À primeira vista, parece uma evidente intervenção estatal em assuntos internos de uma religião. Mas, quem sabe, por linhas tortas, a história não esteja preparando o caminho para a concretização do sonho de Matteo Ricci. De tal modo que aconteça na China, e também nos outros países, o que o Papa Bento 16 em sua carta aos católicos chineses já recomendou: quando precisam de um bispo, vejam se entre o clero de sua diocese não encontram um padre que possa assumir esta missão. E se não encontram na sua diocese, que procurem nas dioceses vizinhas.
Que boa idéia! Quem diria que o governo comunista da China poderia ajudar a Igreja Católica a dar novos passos no caminho da inculturação do Evangelho, na China e no mundo todo!
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