quinta-feira, 16 de junho de 2011

Querem saber meu time... Eu, hein?

Fiquei surpreso com um comentário que recebi há pouco, relativo aos dois textos sobre homossexualidade. O interessante é que o cidadão prefere permanecer no anonimato. Direito dele. Isso pouco me importa! Pensei em não publicar, para não gerar certas polêmicas, mas acho que o cidadão precisa de uma boa resposta. Ele permanecerá no anonimato, como preferem os covardes, mas já que dei minha cara a tapa, ele deu sua palavra ao público. Lá vai:

"Me desculpe, o Senhor introduz em seu texto muitos assuntos que não forma (foram?) aprofundados. Peço o Senhor se ater ao que realmente pensa sobre a homossexualidade enquanto tal."

Pois não, sr. anônimo, vou fazer o sr. ler de novo o que leu antes: "o fenômeno da homossexualidade acontece unicamente dentro de uma sexualidade globalmente doente, o que também vale para certa heterossexualidade em questão". Anônimo você é, como as turbas, mas não deve ser cego, embora não tenha notado o que leu. Estou lidando com um tema que aponta para uma sociedade doente no que tange à sexualidade. Quando uso o termo doença, não estou me referindo a um fenômeno que tem CID ou que seja reconhecido pela OMS. Estou me referindo a paixões não reconciliadas, no fundo, a um mal cuja raiz é comum a todo ser humano. No texto de ontem, disse que a "questão [da homossexualidade] remete-nos ao drama último de ser humano, como tantas outras questões nossas".  Se o sr. quer que eu seja muito claro, não vou perder tempo, remete-nos ao pecado original, a uma desordem no que tange à natureza dos seres. Mas com relação a esse tema, voltamos mais adiante. Penso, curto e grosso, que a homossexualidade é uma manifestação da patologia sexual hodierna da humanidade, o que não se restringe, é claro, à mesma. Isso sempre existiu, mas de modo inaudito, hoje existe uma propaganda de que isso pode ser um modelo de sociedade, de família e de outras realidades. Sendo assim, a pedofilia, a rapina e o uso de drogas pode ser justificável.

Adiante...

"Caso contrário, o seu texto se torna fugidio, simplista sobre a questão e dogmático. Não está aberto a nenhum tipo de discussão, uma espécie de falácia lógica, onde o debate já está ganho por sua parte. Nesse sentido, o Senhor é mais Nazista e Xiita que possa parecer."

Até aceito que me dêem o qualificativo de dogmático. Infelizmente, o cidadão não sabe o que isso significa. Nem vou gastar meu tempo explicando a ele do que se trata. Mostro apenas que ser dogmático não me fecha à discussão. No texto publicado em abril, usei o pouco do que consegui apreender sobre metafísica. O problema é que o cidadão, ou não sabe o que é isso, ou tem horror a isso. E é comum encontrar hoje em dia tudo quanto é tipo de abordagem niilista, maquiavélica, até cientificista (volto também a esse ponto, já, já), mas considera ultrapassada a linguagem metafísica. Por que será? Se a metafísica tivesse ido só até Aristóteles, talvez fosse palatável às turbas dos "anônimos", mas como o Ocidente conheceu uma metafísica muito mais aprofundada por um santo que imbuiu toda a sua especulação metafísica de piedade e toda a sua piedade de metafísica, Santo Tomás de Aquino, o pessoal, voluntária ou involuntariamente, rejeita essa possibilidade. Não é a única (aproveite, Sr. Anônimo, para ler uma citação de Emanuel Lévinas no mesmo texto postado em abril), mas é uma forma filosófica de enxergar o homem aberto para uma Realidade que é maior do que ele, que pode habitar nele e lhe contém. Ainda bem que metafísica voltará a ser obrigatório e extensivo nos seminários católicos.

O cidadão diz que sou fugidio. Por quê? Só porque não me centrei na questão da homossexualidade? Sei lá o que esse povo pensa. Deveria? A verdade é que não tenho obrigação nenhuma de fazê-lo, até porque não é uma questão isolada. Ou será que o anônimo quer fazer patrulhamento ideológico? Se for isso, tenho ainda mais razões de assemelhá-lo aos jihadistas ou aos nazis. 

Agora, vem a apelação:

"Abra-se ao diálogo, talvez isso lhe irá fazer um pouco de benefício e lhe permitiria colocar em prática sua caridade cristã ou ouvir a posição do outro."

O que é que sir anonimous pensa sobre a caridade? Pensa que caridade é ser bonzinho, ser ilimitadamente pacífico, não poder fazer nenhuma afirmação mais aguda, ou mesmo colocá-lo em questão, pelo fato de eu não parecer claro a ele? Se não fui claro, meu querido, por outro lado, incomodei bastante ao menos a ... você. Faço-lhe a pergunta: "se fiz mal, dize-me em quê; mas, senão, por que me bates?" Ah! Ia esquecendo que ele fala que eu não tenho caridade cristã. Olha, Lord Anonimous, até hoje não entrei em templo nenhum virando mesas de cambistas e expulsando quem quer que fosse... pelo menos ainda, nem mesmo dirigi pessoalmente meu olhar a alguém e chamei-o de Satanás, como Jesus fez com Pedro. Mas já que você queria falar em falácia, ei-la em sua apelação.

Mas, o lord concorda em algo comigo. Vejamos:

"Quanto a questão da sexualidade doentia, concordo em número, gênero e caso, porém o Senhor se esquece de colocar uma outra premissa no começo do texto, de que as ciências naturais e não a teologica, a que o Senhor se apega, não considera o homossexulismo como doença."

Bem, já comentei o que a palavra doença se refere. Quero apenas fazer uma breve nota sobre a questão das ciências naturais, com as quais tenho muita afinidade. Elas não têm um consenso acerca da homossexualidade. É uma prática tão antiga quanto a humanidade, mas ainda incompreensível a partir de certos graus de intelecção. Ora aparecem periódicos que afirmam ser uma tendência adquirida na formação do caráter, outros afirmam ter uma íntima ligação com a relação com os pais, outros ainda mostraram a presença de comportamentos cerebrais intrínsecos do sexo oposto... Enfim, não há consenso. Permanece apenas o aprofundamento filosófico, o respeito à dignidade dos que têm a homossexualidade enraizada em si de tal forma a não ser capaz de se desligar desse fato, a continuidade dos estudos científicos e o juízo de Deus sobre cada um. Assim, no que tange às ciências naturais, não tenho a que me apegar. Apresente-me uma análise a que possa me apegar sem que esteja impregnada de ideologias revolucionárias. Se me apresentar, pensarei no seu caso; se não, convenço-me de que me chamar de nazista e xiita foi apenas uma projeção que lord anonimous fez de si sobre mim.

Mas olha bem: como você concorda comigo se "defende" que homossexualismo não faz parte das chagas da sexualidade hodierna? Ou será que as chagas, para V. Sa., são apenas aquelas relacionadas à heterossexualidade. Aí, temos um problema real. V. Sa. também acha, como alguns iluminados, que a heterossexualidade deve ser posta em questão?

Lá vem mais apelação:
"Isso faz do Senhor um retrógrado e enfiado em uma esfera completamente alienada, no dizer bem marxista, a que o Senhor debocha e se alude.

Parece que começo a identificar o cidadão. É chegado num marxismo. De Marx? De Gramsci? De Marcusen? O que há de mais retrógrado do que o regime marxista de Mao Tsé-Tung e seus sucessores? Na China, manifestações de homossexualidade são proibidas, assim como seguir o Papa. Mas o camarada me chama de alienado. Olha, camarada, desse discurso eu não tenho medo. Se é para atirar pedra, vamos deixar de falso pacifismo. Debocho, sim. Marxista é chegado a dizer que a história acabou e ora começou uma outra da qual ele é autor. Estou vendo isso o tempo todo acontecer no Brasil desses últimos anos. Será que é difícil aprender com a história de outras nações? Quem é alienado aqui?

"No fundo, eu ainda não entendi que time o Senhor torce, seja na sexualidade, seja na política e na própria religião.

E pra que o sr. quer entender? Quer me seguir? Quer me patrulhar? Quer me condenar? Torço para o São Paulo Futebol Clube. E, quer saber? Na verdade, essa sua frase me enche de santo orgulho. Era o que diziam do Bv. Papa João Paulo II, quando diziam ser ele progressista do ponto de vista social e retrórgrado do ponto de vista social. Mas não estou nem aos pés da santidade dele. Valeu, anônimo!!! Se você reza, peça para que o exemplo de um santo como ele me venha em socorro. Também tenho minhas debilidades, assim como você.

E falando no Papa, agora o meu admirador secreto mete o pé na jaca:

"Eu acredito que o Senhor conheça o Catecismo da Igreja Católica... não é mesmo. Nem o Papa foi tão ridículo quanto o Senhor. Dê uma lida sobre a questão do homossexualismo."

É, como eu desconfiava, se o Papa foi em alguma medida ridículo, realmente estou no caminho certo, ao ver que sou chamado de mais ridículo do que ele. Mas vamos ver a que ridículo o iluminado se expõe nesse expediente: o doutrinal.

Catecismo da Igreja Católica (2357-2359):

2357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atração sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.
2358. Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.
2359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.


Preciso ir mais adiante? O item 2357 é mais cortante, incisivo e pragmático do que aquilo que afirmei no texto publicado em abril. Os itens seguintes dão razão ao restante do texto que escrevi. Se você quiser saber, o que penso da homossexualidade não se afasta um milímetro do que aí está. Que falei naquele texto? De educar a liberdade interior, de razão e corpo obedecerem a uma instância mais ampla. Heterossexuais têm a mesma lição de casa, porém com suas especifidades (mutatis mutandis). Essa instância só nos fala na dinâmica da fé. Essa instância é Deus, no modo pelo qual se manifestou: Cristo. Lembre-se: Ele levantou o sarrafo no Templo, amaldiçoou uma figueira e chamou a Pedro de Satanás.

Camarada iluminado, tem ainda o Papa Bento XVI, falando em entrevista a Peter Seewald, no livro Luz do Mundo, publicado no final do ano passado. É sempre uma alegria a oportunidade de pôr um texto de Bento XVI (esse sim um intelectual, não eu, como o sr. diz abaixo - não tenho essa pretensão). E o entrevistador cita exatamente os artigos supracitados 2358 e 2357, nessa ordem. E pergunta: "não haveria aqui uma certa contradição com o respeito acima referido relativamente aos homossexuais?"
Como é bom ter a palavra de Bento XVI. Segue abaixo:

"Não. A primeira coisa é que são pessoas com seus problemas e alegrias, e que merecem respeito como seres humanos, mesmo que tenham em si essa tendência, e não devem ser injustamente excluídas por isso. O respeito pelo ser humano é fundamental e crucial."

"Mas isso é diferente do significado profundo da sexualidade. Poderíamos dizer, se nos quisermos expressar desse modo, que a evolução produziu a sexualidade com a finalidade de reprodução da espécie. Isso também é válido teologicamente. O sentido da sexualidade é o de orientar o homem e a mulher um para o outro e, assim, dar à humanidade descendência, crenças, futuro. Esta é a determinação intrínseca à sua natureza. Todo o resto é contra o sentido profundo da sexualidade. Temos de ser fiéis, mesmo que não seja do agrado do nosso tempo."

"Trata-se da verdade interior sobre o que a sexualidade significa na estrutura do ser humano. Se alguém tem tendências homossexuais profundas (até agora, não se sabe se são de fato congênitas ou se surgem durante a primeira infância), se, em qualquer caso, elas têm poder nessa pessoa, então ela está sujeita a uma grande provação, tal como no caso de outras provações que podem pesar sobre uma pessoa. Mas isso não significa que a homossexualidade se torne, por isso, moralmente correta - ela continua a ser algo que vai contra a essência inicialmente desejada por Deus."

Bem, cada um faça sua reflexão sobre o que diz o Papa (ou os Papas) que o cidadão afirma ser ridículo. Para mim palavras como essas bastam para me deixar com a consciência em paz depois de ler as últimas palavras do cidadão anônimo:


"Infelizmente, intelectuais como o senhor, fere o livre pensamento e o debate proficuo, condenando toda a humanidade a uma prisão raci(o)nal fincada não na Sagrada Escritura, mas na tradição puramente puritana e sectarista. Acho melhor o Senhor fazer como Lefevre, por favor, nos faça um favor: Funda uma Igreja igualzinha a dele. Talvez o Senhor consiga ser mais feliz!"

Obrigado por me chamar de intelectual ainda que com mesclas de fel. Não acho que me aproximo nem do intelectual nem desse fel que é todo seu. O modo como abordei a homossexualidade em abril era uma forma de amplificar a visão sobre a sexualidade em geral, especialmente em nossos tempos. Isso o Papa também o faz na entrevista. O Catecismo também o faz. Nesse ínterim, por estar bem entrosado com o ensinamento dos Santos Padres, resta-me dizer que não preciso de uma seita como a de Lefèbvre. Tenho a meu lado o Magistério Apostólico, a Sagrada Escritura, e contra mim nada definitivo em termos de ciência; apenas de ideologia esquerdopata. E isso não me envergonha.

Se lhe interessa, você pode fundar uma seita parecida com a de Leonardo Boff. Lá, segundo ele, seus textos  e seus séquitos, podemos ser felizes já e não precisamos lembrar de realidades eternas.

Um comentário:

Joseane disse...

Parabéns, profundo e belíssimo texto! Ainda bem, que existe pessoas como você, preocupados em esclarecer-nos sobre questões polêmicas como a homossexualidade. Infelizmente, encontramos dentro da nossa própria igreja "cidadãos" que se dizem católicos, mas o que eles fazem mesmo é disseminar ideologias que, no fundo, foram criadas para destruir a igreja para que " adoremos", em vez do Senhor Jesus Cristo, eles mesmos!!!!