sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

São José e a Justiça que nos visita

Hoje, no segundo dia da Semana Santa do Natal, senti-me impelido a fazê-lo. Isso aconteceu contemplando as leituras da liturgia de hoje, onde Jeremias Profeta prenuncia os dias em que Deus faria brotar de Davi um rebento justo, uma descendência, que governaria com sabedoria e exerceria o direito e a justiça em Israel (Jr 23,5), mais o acontecimento do anúncio do anjo do Senhor a São José (Mt 1,18-24). Esta última leitura é repetida com a genealogia de Jesus, na Vigília de Natal.
 
O que significa tudo isso?
 
O evangelista Mateus diz que José era um homem justo. O que é um justo, na mentalidade judaica? É um homem temente a Deus, um homem que leva Deus como referência de vida, sua Lei, seu culto, sua maneira de se manifestar na história. Um homem justo é, numa palavra, o homem que tem fé, o crente. Por isso se diz que José era justo. Acontece, porém, uma situação inusitada e inquietante: aquela que lhe estava prometida em casamento aparece grávida. Apenas um outro evangelista, Lucas, dá-se o trabalho de dizer como Maria ficou grávida (quando o Arcanjo Gabriel lhe apareceu e lhe anunciou o sonho de Deus, para o qual ela disse seu “sim”). Mateus laconicamente resume o fato como “tendo concebido do Espírito Santo”. Mateus, como bom autor de um evangelho dirigido a cristãos vindos do judaísmo, descreve a genealogia do Cristo e realça apenas o drama ocorrido com o pai. De fato, haveria de se explicar o inaudito fato àquela sociedade patriarcal.
 
Que coisa! Não é fácil. Prometida em casamento, engravida sem ter sido tocada por José. O justo poderia apelar para a Lei: poderia denunciá-la de adultério, e ela, sofrer a pena de lapidação. Porém, o justo não esquece o provérbio que lembra que “o justo precisa ser humano”, e não denuncia Maria, mas decide ir embora, assumindo ele mesmo a condenação perante a sociedade, de ter engravidado uma mulher e ter fugido como um covarde, sem, no entanto, tê-lo sido. A José, a Lei oferecia um recurso, e certamente, seu título de justo não seria retirado; o amor a Maria ofereceria um outro recurso que lhe pouparia.
 
Mas há um outro olhar que pode ser lançado sobre tudo isso. Anjos agem na vida dos homens quando Deus lhes deseja comunicar algo muito importante. De modo particular, os arcanjos vêm em socorro da humanidade para oferecer sublimes e indispensáveis dons da graça divina. Ali estava o coração de um justo apertado, sufocado, angustiado. Ali estava um homem em prantos. Os demônios conseguem manipular até a realidade do justo, usando das armas da própria justiça e até mesmo do amor humano para desviar a atenção do plano de Deus, plano que corresponde à Realidade por excelência.
 
O ícone de Natal apresenta um José pensativo, desanimado, olhando para um ente esquisito, que está de costas para quem observa a obra. Esse ente é o inimigo de Deus. Cabe lembrar que todos nos viciamos em carregar o vencido inimigo de Deus dentro de nós, e daquilo que sofreu José sofremos também nós em nossas tentações e aflições. São as amarguras, o desânimo, a cólera e todas aquelas coisas que nos afastam de Deus e de nós mesmos. E ainda contamos com instrumentos legítimos para consolidar e validar nossa justiça.
 
Olhando para José, lembramos de que o anjo lhe foi em socorro em sonho. O pedido do anjo em acolher aquela que continuava Virgem ecoa como um pedido a José para ser mais do que justo, enlarguecer os limites da própria justiça, dilatar o coração. De fato, o Salmo 118,26 diz: "de vossos mandamentos corro a estrada, porque vós me dilatais o coração". A justiça de que se trata agora não é mais a justiça que os homens reconhecem como tal, mas a justiça de Deus, a justiça prometida pelos profetas, quando do Dia da vinda do Santo Messias. Ele mesmo, o Messias, disse: "se a vossa justiça não for maior do que a justiça dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus".
 
Aí, está, pois, a justiça. Não basta ao justo ser justo; não basta ao justo ser humano. Ele precisa ser tudo isso, mas precisa de algo mais para ser pleno: ele precisa de um olhar teologal, pneumatikon, espiritual. O justo, nesse novo e inaudito sentido, é aquele que olha segundo Deus, para além das prescrições e julgamentos humanos. É aquilo que muitos já denominaram de “ter espírito religioso”, o senso de que Deus é livre, de que age como quer, de que todas as leis naturais e humanas estão inscritas numa lei transcendente, misteriosa, que não conhecemos, ao menos por inteiro, coisa que em nossos tempos não está em moda.
 
Olhemos, agora, mais atentamente para essa silenciosa figura do presépio: José. Como bom judeu, conheceu as Escrituras da Lei e dos Profetas. Entre tantas outras passagens, destacamos a que foi I Leitura hoje: “virão dias em que Deus fará brotar de Davi um rebento justo”. Será que José lembrou dessa profecia? Será que lembrou de todas as outras? Certamente. Mas o que era José, da já tão esquecida e vilipendiada casa de Davi, diante da grandiosidade dos planos de Deus? Afinal de contas, a casa de Davi tinha deixado destruir tudo o que Deus oferecera a seu povo. Israel sofreu pilhagem após pilhagem, e a casa de Davi, outrora tronco forte, agora não era mais do que um rebento, um raminho, um galhinho fininho de árvore. Para José, acordado do sonho, vale a pergunta: “será que é comigo?” Caro amigo e leitos, quantas vezes a Palavra de Deus não terá sido dirigida a você, e você se fez essa pergunta?
 
Os profetas anunciaram que coisas inauditas aconteceriam no Dia da Vinda do Messias. Joel diz que o sol perderia seu brilho, a lua se transformaria em sangue, os anciãos teriam sonhos, os jovens teriam visões. E mais, Deus prometeu à Casa de Davi uma descendência em várias passagens da Escritura: os escritos dos Livros dos Reis e das Crônicas, os escritos proféticos de Isaías e Jeremias, os Salmos 71, 88 e 131, enfim tudo apontava para isso. E José era da casa de Davi. Somente um único aspecto não lhe faz entender como isso seria com ele: ele não tocou em Maria. A própria Virgem pergunta ao Arcanjo Gabriel: “como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” Conhecer, no sentido conjugal, segundo a tradução hebraica, é ter relações sexuais. Como acontecerá isso?
 
Meus caros, aqui é preciso ter fé. José teve a fé. De que fé estamos falando? Fé em Deus, mas não em qualquer Deus , não em um ente que moldamos a nosso modo. Trata-se da fé num Deus livre, que, como diz o Salmo 113, “faz tudo aquilo que quer”. Deus é Alguém, Alguém com vontade, com inteligência, com coração, que dispõe da realidade conforme seu desígnio a habilita, inclusive dando condição para que surjam as leis naturais que estudamos e das quais desfrutamos para nosso bem (e também para o nosso mal).
 
Certas horas da vida, nas demoras de Deus, nas aparentes sensações de falta de existência de Deus, de vazio de Deus, meu caro irmão, minha cara irmã, tenha a certeza que é Ele mesmo que nos faz o apelo para que descubramos uma virtude maior em nosso Deus. Ele é livre, mais livre do que eu penso, mais livre do que eu, e me leva a uma liberdade ainda maior, se eu souber silenciar diante de tudo aquilo que é Mistério e que leva, assim mesmo, mesmo desafiando o que é facilmente demonstrável ou sensível, a se cumprir seu eterno plano de amor.
 
Se eu estiver disposto a dar o salto que essa fé pede de mim, se eu tiver a coragem de apostar na Verdade que se nos apresenta, embora nossa rigidez racionalista e sentimentalista apresentem mil ilusões, poderei dar mais um passo em direção ao seu Reino.
 
Se eu souber silenciar as vozes pululantes do coração perturbado e amansar a fera que se acha tão justa e tão boa dentro de mim, descobrirei que não sou justo nem bom, enquanto não conseguir olhar para além do palpável.
 
Caro irmão, cara irmã, tenha a certeza! Se tudo isso acontecer em nossa vida, Deus se tornará palpável, visível, audível. Se assim já se faz, pela potestade da Igreja, que sacramentaliza essa realidade, através dos sacramentos, far-se-á em nós. Misteriosamente , Deus se revelará a nós. De fato, Ele assume a liberdade de se revelar a quem quer, mas ao coração daquele que só deseja o que Ele deseja – tenha a certeza –, Deus se inclina de uma maneira inaudita.
 
Quantas lições o silêncio de José nos traz! Que belo é o olhar daquele que não deu uma única palavra verbalmente, mas ao ouvir a palavra por meio do anjo, permitiu que a Palavra, o Verbo, a Razão de Deus se fizesse palpável, na sua Encarnação no ventre de Maria Virgem!
 
Ruperto de Deutz, no século XII, chegou a escrever: “o que prefigura essa escada” – a escada de um outro sonho, o de Jacó – , “senão a linhagem da qual Jesus deveria nascer, linhagem que o santo evangelista, com um sopro divino, faz subir, de maneira que chegasse a Jesus passando por José? E a este José o Senhor confiou o Menino. Pela «Porta do Céu» (Gn 28,17)[...], quer dizer, pela bem-aventurada Virgem, sai Nosso senhor a chorar, feito criança por nós.”
 
Contemplamos, com o sim de José, o presépio. O menino que vai nascer é Deus, mas é menino, Filho do Homem, título que repetiu tantas vezes com relação a Si próprio. Vem pequeno, vem criança, para que, como crianças, aprendamos com Ele a sermos o que nós somos nEle.
 
Gostaria de terminar este texto repetindo uma bela e significativa frase de Ângelus Silesius, místico da Idade Média: “nasça Cristo mil vezes em Belém; se não nascer em teu coração, de nada te adiantou ter Ele nascido, terás vivido em vão!”
 
Olhemos para o Presépio, olhemos para José, para o Menino. Olhemos para nós, para o nosso coração, para a nossa vida! Seja ela o presépio, onde contemplamos o milagre da encarnação do Verbo de Deus acontecendo em cada momento, em cada simples e pequeno instante. Eis o que seja a sublimidade da verdadeira vida, que se completa, no Dia Final, quando Ele for tudo em todos. A Ele a glória para sempre. Amém!

A todos que acompanham este humilde espaço eletrônico, desejo, de coração, um Feliz e Santo Natal, pleno do Cristo, Nosso Senhor!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Reaprender a respirar a vida, a mastigá-la, degustá-la...

Hoje em dia faz-se por vezes necessário, pois se está muito sujeito a esquecer de que somos humanos, esquecer de que nossos anseios mais profundos estão aí e não nos deixam em paz enquanto não nos pusermos a escutá-los.

Hoje o homem sofre com um profundo desenraizamento e muitas vezes foge de um encontro que lhe devolva sua verdadeira identidade. É, de fato, um absurdo, mas isso só acontece quando um ser é estranho a si mesmo. É o dilema de um animal, como um gato que minha irmã teve que, ao ser posto diante de um espelho, se zangou da imagem que viu. Não obstante, isso seria ainda desejável ao homem. Na verdade, se o homem pudesse ao menos despertar algum sentimento, alguma reação diante de sua verdade, poderia ser um ponto de encontro com o Ser, mas, na realidade, ele o evita, num indiferentismo sem precedentes.

E pensar que trazemos uma riqueza grandiosa em nós... Em nosso corpo, em nossa vida trazemos uma potencialidade enorme. Todos as nossas células, tecidos, órgãos, funções vitais falam profundamente. Inicialmente, elas nos falam de nossas necessidades mais elementares, como é comum acontecer com uma criança. Depois, elas começam a se relacionar com desejos mais sofisticados, e a riqueza dos sentidos, mediante a função plástica de proteínas e vitaminas, o aumento da precisão da ação orgânica e a multiplicação das sinapses nervosas acaba por dar a aprender cada vez mais como satisfazer necessidades de maneira a que alcancemos aquilo que desejamos, mesmo quando essas coisas ainda não existem. Foi assim que se desenvolveu a ciência, a economia, a tecnologia, a cultura e as artes. É por ser um ser de desejo que o homem consegue construir a história.

A questão é: o que significa tudo isso? Podemos alçar vôos altíssimos, mergulhar as profundezas do mar e escavar as da terra, trabalhar em nanoescala, controlando as propriedades da natureza a nível de átomo, tanto quanto em exoescala, buscando informações acerca dos confins do universo, um universo que não se resume a longínquas distâncias sobre a superfície da terra, mas muito além de ambientes que são os mais diversos possíveis desta nossa casa comum.

Continua a pergunta: que significa isso? O homem nasce, cresce, estuda, casa-se, tem filhos... Ou pior do que isso, torna-se bandido, prostitui seu corpo, aborta crianças, corrompe a política e a economia. Em nosso tempo, descobriu-se uma linha tênue entre a vida ordenada e desordenada, e elas parecem mais irmãs gêmeas do que poderiam parecer ser.

Ajuda-nos, Senhor! “Que é o homem, para dele assim te lembrares e o tratares com tanto carinho?” Pois bem, o homem é esse curioso ser que faz a ponte entre o finito e o infinito, tão pequeno, tão suscetível, e tão igualmente capaz de ideais grandiosos... À tão inquietante pergunta acima, algumas pistas nos são dadas pelas Sagradas Escrituras: “imagem e semelhança de Deus”.

Mas o que isso quer dizer hoje, para uma geração que parece incapaz de Deus? Pode-se ainda dizer: “de que Deus?” Segue que grandiosos sinais nos são dados em coisas tão pequeninas, coisas que os cristãos contemplaram desde o começo: a água que bebemos, o alimento do corpo, as vestes que usamos, o trabalho realizado por nós, as pessoas com as quais convivemos, seja em família, seja entre amigos, seja em Igreja, seja em sociedade. Todos eles querem falar de algo mais. E sabem por quê?

Porque o Senhor, “aquele que vimos, com quem comemos e bebemos, aquele a quem ouvimos” tocou todas essas coisas, e, da maneira como as tratou, desvelou-lhes o verdadeiro valor. Sim, “aquele que nossas mãos apalparam”, como poderia dizer o Apóstolo São João, revelou-lhes o Reino, que estava ali, não de maneira distante ou externa, mas ali, neles.

Controversa é a passagem de Lucas evangelista em que Jesus diz o Reino estar em nós (Lc 17,21). Alguns dizem que está no meio de nós, entre nós, em nossa história, um Reino a se desvelar de tal maneira que a purificação de nossos diversos contextos possibilitaria sua visão. Mas, por exemplo, São Gregório de Nissa vai mais longe, a partir de seu contexto místico, capadócio: “ ‘o Reino de Deus está dentro de vós’. Disso aprendemos que por um coração feito puro (...) vemos em nossa própria beleza a imagem da deidade (...). Tu tens em ti a capacidade de ver Deus. Ele, que te formou, põe em teu ser um imenso poder. Quando Deus te criou, plantou em ti a imagem de sua perfeição, como a marca de um selo. Mas teu vagar obscureceu essa imagem. Tu és como uma moeda de metal: sobre o rosto a ferrugem desaparece. A moeda estava suja, mas agora reflete o brilho do sol e todo o brilho em sua volta. Como a moeda, a parte interna da personalidade, chamada ‘coração’ pelo nosso Mestre, uma vez livre da sujeira que escondia sua beleza, redescobrirá a primeira semelhança e será real... Assim, quando as pessoas olham para si, elas vêem nelas o Um que elas estão buscando. E esse é o júbilo que preencherá seus corações purificados”.

Pois bem, seja na história, seja em nossa vida, muito mais ainda em nosso interior, onde as interpelações externas diversas podem se tornar realidade e história para nós, a verdade é que tudo o que nos cerca e acontece é obra do Deus Eterno na história. É uma teofania, como se fosse a continuidade do mistério através do qual se encarnou, morreu e ressuscitou dentre os mortos. Quando a vida manifesta a sua face, essas coisas acontecem aí, e somente nosso alijamento, bem (ou mal) conhecido como pecado, torna-nos incapazes de percebe-lo.

Esse mistério acontece aqui! Sim, nas minhas lutas, vitórias, desavenças, desventuras, desencontros, proezas, objetivos alcançados. Eles falam de algo tão grande, que, em última análise, só podem remeter-se ao amor de Deus manifestado no mistério pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por assim dizer, sem percebermos, Cristo celebra a Páscoa em nossa vida.

“Eles recordam vosso amor tão grandioso e exaltam, ó Senhor, vossa justiça!” (Sl 145,7). Quem recorda? Nosso corpo, nossos gestos. Muitas vezes, nosso inconsciente está tomado desses gestos. E sabem por quê? Porque eles remetem à Origem, que muitas vezes está fora de nossa percepção consciente. Quanto a isso, é natural. Cuidemos, entretanto, para que nossa inconsciência do Bem, do Bem que habita aí, onde estamos, não sufoque completamente a ação do bem em nossa vida, tornando-a sem sentido, e, quem sabe, desordenada.

Descansemos nEle, e no silêncio, percebamo-lo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"Agora que o clrão da luz se apaga", as crianças foram dormir o sono dos justos

Agora as crianças foram dormir. Graças a Deus, as cólicas de Thalita foram mais suaves hoje. Como é grande a vocação paterna. O Salmo de hoje (67) lembrava: "dos órfãos Ele é pai e das viúvas protetor; é assim o nosso Deus em sua santa habitação". Na mesma liturgia, São Paulo lembra que o mesmo Deus não nos deu um espírito de escravos, mas o Espírito que clama em nós "Abá, ó Pai!" Eis a verdadeira e pura oração, que brota de um coração puro...

Ester, ao clamar a Deus por seu povo, pedia chorando "vinde em socorro de minha orfandade" (Est 4,17)

Na paternidade, desempenhamos o papel que, por excelência e autoridade pertencem unicamente a Deus: "não chameis a ninguém de pai, porque um só é o Pai que está nos céus". É quase uma temeridade sermos chamados de pais. E é assim que nossos filhos aprendem a nos chamar.

Indigno dessa vocação, só uma maneira vejo a de encarar esse drama ontológico. Orar ao Pai. Reconhecer o Espírito que foi posto em nós, pela graça do Batismo e do Matrimônio. O Pai do céu nos outorga a capacidade de podermos absorver o que é unicamente dEle: as glórias e as penas do Pai. Por essa vocação, nossos filhos vão aprendendo que não são órfãos. Aprendem que uma pai, uma mãe, um Pai Eterno os ama. Uma vocação divina, dada a mim, a tantos de nós...

E ser pai não exige muito; na realidade exige tudo: um movimento descendente do corpo e da alma, até mesmo das nossas potências mais pueris, para mostrarmos aquilo que na sua simplicidade é de Deus.

Há pouco, lia para o meu filho (ele tem feito cada um de nós ler a Bíblia para ele todas as noites - é o Ofício de Vigílias dele) a passagem tão comovente dos lírios do campo e das aves do céu (Mt 6, 18 ss.). Fui trazendo ao meu coração a paternidade de Deus, que lembrando-se de seu Filho, a Sabedoria que é gerada por Ele desde toda a eternidade, constituiu essas imagens de sua imensa liberdade, na liberdade dos seres criados. O Filho, a Sabedoria, que brincava com elas desde o princípio, era  livre porque olhava para todos os bens com liberdade, de tal modo a jamais deixar que a possibilidade dos males do futuro viessem a tirar o olhar contemplativo sobre seu Pai.

Que grandiosidade a vocação de pai: lembrar aos nossos filhos de que foram feitos para a liberdade. Não são os condicionamentos do mundo que os constituirão. Mas uma paternidade cheia do olhar da paternidade de nosso Deus, o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tremo diante disso! Porque nem sempre meu olhar é esse olhar. Rogo a Deus que meu olhar aprenda no olhar para ele, e do cruzamento de olhares, nasça um olhar de liberdade em nossos filhos. E tendo os pais que têm possam apontar, como uma flecha apontada para o infinito alvo (lembrem-se da epectase), possam eles olharem para o Pai celeste com o olhar de Jesus. Essa é a hora em que diminuímos, e Ele cresce. Sim, como dizia Gibran, poeta libanês, "nossos filhos não são nossos filhos; são filhos do desejo da vida por si mesma".

Mas para além de minhas fraquezas, reafirmo minha serena certeza de quando falhar nessa pedagogia (que já é uma mistagogia), por causa de meu pecado, por causa de meu olhar nem sempre tão fixo em Cristo, o Pai celeste, que, em Cristo, atraiu tudo para si, ao ser levantado da terra, especialmente as crianças, não abandonará meus filhos, não abandonará nossas crianças, e será tudo neles.

Sim, porque o pedido de Ester foi escutado: Ele veio em socorro de nossa orfandade.

Termino a noite com as palavras de nossa música popular brasileira: "hoje eu quero paz de criança dormindo, quero o abandono de flores se abrindo para enfeitar a noite do meu bem", do Eterno Bem...

Boa e serena noite a todos!

domingo, 25 de outubro de 2009

Os noivos...

Acabamos de falar a noivos sobre Planejamento Familiar cristão. Sabemos como nosso mundo está comprometido com o politicamente correto e de como nossos jovens, mais, nossas crianças crescem aprendendo os valores do mundo, sem uma família, sem uma comunidade que lhes dê suporte humano.

Sabemos que falamos palavras que não agradam ao mundo, e até mesmo muitos cristãos se envergonham de falar (o que de per si é uma vergonha para o cristão). Sabemos que muitos jovens se irritam ao tratarmos de um assunto tão sagrado. Não sabemos quantos matrimônios ali serão válidos.

Temos a certeza serena de que nosso falar em Cristo é sempre loucura e é desprezado pelos que pensam como o mundo. Mais ainda, temos a esperança firme de Deus insufla seu amor perene naqueles que o buscam, e naqueles que Ele quer para si.

Lembro agora das palavras da música de José Acácio Santana, "Põe a semente na terra":

Toda semente é um anseio de frutificar / e todo fruto é uma forma da gente se dar.

Põe a semente na terra, não será em vão / não te preocupe a colheita, plantas para o irmão

Toda a palavra é um anseio de comunicar / e toda a fala é uma forma de a gente se dar.

Todo o tijolo é um anseio de edificar / e toda a obra é uma forma de a gente se dar.

sábado, 24 de outubro de 2009

E falando em epectase

Vejam esse comentário de São Gregório de Nissa à Vida de Moisés. É um comentário ao Evangelho de hoje (XXX Domingo Comum B - O cego Bartimeu, Mc 10,46-52), mas dá as noções do que seja a epectase cristã.

Um abraço a todos e Santo Domingo!

Dos escritos de São Gregório de Nissa, bispo.



«Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho»

[No Monte Sinai], Moisés disse ao Senhor: «Mostra-me a Tua glória». Deus respondeu-lhe: «Farei passar diante de ti toda a Minha bondade (...), mas tu não poderás ver a Minha face» (Ex 33, 18ss.).] Experimentar este desejo parece-me porvir de uma alma animada pelo amor à beleza essencial, uma alma a quem a esperança não pára de conduzir da beleza que já viu para aquela que está para além. [...] Este pedido audacioso, que ultrapassa os limites do desejo, almeja pela beleza que está para além do espelho, do reflexo, para a ver face a face. A voz divina satisfaz o pedido, recusando-o simultaneamente [...]: a magnanimidade de Deus concede-lhe a satisfação do desejo, mas, ao mesmo tempo, não lhe promete repouso nem saciedade. [...] É nisto que consiste a verdadeira visão de Deus: aquele que para Ele eleva os olhos nunca mais cessa de O desejar. É por isso que Ele diz: «não poderás ver a Minha face». [...]


O Senhor que tinha respondido a Moisés exprime-se da mesma forma aos Seus discípulos, clarificando o sentido desta simbologia. Ele diz «Se alguém quiser vir após Mim», (Lc 9, 23) e não: «Se alguém quiser ir à Minha frente». Ao que Lhe faz um pedido a respeito da vida eterna, propõe o mesmo: «Vem e segue-Me» (Lc 18, 22). Ora, aquele que segue caminha virado para as costas daquele que o guia. Portanto, o ensinamento que Moisés recebe sobre a maneira pela qual é possível ver a Deus é este: ver a Deus é segui-Lo para onde Ele conduzir. [...]


Com efeito, aquele que não conhece o caminho não pode viajar em segurança se não seguir o guia. Este precede-o, mostrando-lhe o caminho; por isso, quem o segue não se desviará do caminho se se mantiver virado para as costas daquele que o conduz. Com efeito, se se deixar ir ao lado ou de frente para o guia tomará uma via diferente da indicada. Por isso, Deus diz àquele a quem conduz: «Não poderás ver a Minha face», o que significa: «não olhes de frente o teu guia», porque, se assim fizesses, correrias num sentido que Lhe é contrário. [...] Como vês, é importante aprender a seguir a Deus: para aquele que assim O segue nenhuma contradição do mal se poderá opor ao seu caminhar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"Virão a ti nações de longe"

“Resplenderás, qual luz brilhante, até os extremos desta terra; virão a ti nações de longe, dos lugares mais distantes, invocando o santo nome, trazendo dons ao Rei do céu.” (Tb 13,13)

Nesta profecia, podemos nos encantar, nos alegrar, jubilar com intenso gáudio na presença de Deus. Te Deum, laudámus. Sim, porque “há mais alegria no céu por um pecador que se converte do que por noventa e nove que não precisam de conversão”. Anteontem, perto do fim da tarde a Secretaria de Imprensa do Vaticano lançou em SMS, para muitos jornalistas credenciados, o que o Santo Padre já havia autorizado publicar do que ele está realizando: a acolhida, não de um, mas de cerca de quinhentos mil fiéis cristãos, que tendo nascido e crescido dentro do anglicanismo, estavam batendo à porta da Igreja Católica Apostólica Romana, e esta porta acaba de ser aberta. Como os senhores viram na mensagem que enviei antes, a Congregação para a Doutrina da Fé está encarregada de esclarecer toda a situação, por enquanto, mas em poucos dias o Santo Padre publicará uma Carta Apostólica, oficializando a entrada desse universo todo específico dos Anglicanos Católicos. Não quero entrar nos aspectos da questão particular em si, que envolve, por um lado, as disputas antigas entre a Coroa Britânica e a Igreja Católica e os recentes escândalos e aberrações doutrinais, hierárquicos e morais que vem acontecendo por lá, e, por outro, os tesouros da Tradição que foram resguardados por muitos fiéis dessas Igrejas. Quero contemplar esses irmãos, quero me deter na beleza da Igreja, Aquela Igreja, sonhada por Cristo, é verdade que ainda por ver plenamente esse sonho se realizar, mas, com certeza, dando imagens, sinais, de que Ele nunca a abandona.

A passagem bíblica que citei acima é encontrada no livro de Tobias. É um ketuvin, uma novela edificante, escrita em grego, nos tempos da diáspora de Israel, cerca de 200 aC. Está entre os livros assim chamados deuterocanônicos das Sagradas Escrituras. A história, os senhores devem conhecê-la, fala da família de um exilado Tobit, homem piedoso. Sofria com a deportação de Israel e recolhia cada cadáver que encontrava para sepulta-lo, mesmo que isso lhe custasse a vida. Detalhes à parte, em função de uma dessas ocasiões, esse homem fica cego e perde seu sustento físico e se torna escândalo até para a própria esposa. O Arcanjo Rafael vem em seu socorro, mas propõe que seu filho Tobias vá ao encontro de uma distante parente sua, Sara, que já havia casado sete vezes, mas todas as vezes que o casamento estava para se consumar, um demônio, não sabemos muitas informações sobre ele, senão o seu nome, Asmodeu (Ash + modé = o destruidor, do hebraico), vinha ao seu leito e matava o marido. Rafael conduz Tobias a Sara. E, que belo, na noite nupcial, eles oram instantemente a Deus suplicando que os males daquela família fossem curados. O Arcanjo Rafael eleva a Deus essas preces e a relação entre eles se consuma, constituindo assim uma família. Depois, ele retorna à casa de seu pai, com o óleo extraído de um peixe, trazido das terras de Ragüel, pai de Sara, e o derrama em seus olhos, que voltam a enxergar. É depois de ver esses sinais e acontecimentos da grandeza de Deus que Tobias eleva a Deus o cântico cujo versículo pus logo no início e que continua assim:

"- Em ti se alegrarão as gerações das gerações e o nome da Eleita durará por todo o sempre.

- Então, te alegrarás pelos filhos dos teus justos, todos unidos, bendizendo ao Senhor, o Rei eterno.
- Haverão de ser ditosos todos quantos que te amam, encontrando em tua paz sua grande alegria."

De fato, Sara representa a Israel sempre atacada pelas forças inimigas, ao tentar fazer alianças com os povos vizinhos, em nome da força que esperava ter, a despeito do poder de seu Deus. Exilada, já não tinha mais em quem confiar: nem em Deus, em quem já não confiava, nem nas potências. Tobit era o homem que esperava em Deus, dir-se-ia um justo, mas havia de purificar sua esperança, e, mais ainda, ser ele mesmo sinal de que Deus age para além de nossas expectativas. Na realidade o Cântico de Tobias (Tb 13, 13-15, aqui citado) é um reconhecimento de que aquele Israel humilhado era justamente o material de que Deus iria se utilizar para trazer todos os povos à salvação, que se dá unicamente na esperança no Deus vivo e verdadeiro. A visão de Tobias era semelhante a que o Profeta (Is 63) já havia também tido: “as nações caminharão à tua luz, e os reis ao brilho da tua aurora. Levanta os olhos e olha à tua volta. De longe, os teus filhos, que vem perto de ti.” Muito anteriormente, Balaão, um mago, que havia sido enviado para amaldiçoar os filhos de Israel conduzidos por Moisés, ao ver aquela multidão de gente morando em tendas, no deserto, crendo apenas no Deus Altíssimo, não conseguiu dizer uma única palavra de maldição; só conseguiu abençoar: "Oráculo de Balaão, filho de Beor, oráculo do homem que tem os olhos abertos; oráculo daquele que ouve as palavras de Deus, que vê o que o poderoso lhe faz ver, que cai, e seus olhos se abrem. Como são belas as tuas tendas, ó Jacó, e as tuas moradas, ó Israel! Elas se estendem como vales, como jardins ao longo de um rio, como aloés que o Senhor plantou, como cedro junto das águas. A água transborda de seus cântaros, e sua semente é ricamente regada. Seu rei é mais poderoso do que Agag, seu reino está em ascensão" (Nm 5, 3-7).

Todas as profecias sobre Israel se consumam em Cristo e na Igreja. NEle, “tudo está consumado”. NEle, as profecias encontram a realidade. Todas aquelas visões de uma multidão no deserto, vivendo de fé, são visões sobre o povo que vive “da fé no Filho de Deus que o amou e por ele se entregou”. É assim que caminhamos no mundo. Não é à toa que Jesus, o Bom, o Belo, o Único Pastor, usa com tanta eloqüência a imagem da ovelha perdida e reencontrada, a do doente que é curado, a do pecador que se converte. Não é à toa que, Ele mesmo, ressuscita mortos, cura endemoninhados, chicoteia os perversos. Jesus diz ainda de ser a verdadeira Videira, que faz permanecer aqueles que permanecem nEle. Ao ressuscitar dos mortos, transmite o seu Espírito, o Espírito que, por Ele, procede do Pai e impele homens de toda parte a busca-lO, através do testemunho da Igreja. Nela, renascem os filhos desta luz, a luz da fé, para que, nos sacramentos, na oração, na vivência evangélica, morram para si mesmos e sejam um só corpo vivo com Ele, o Corpo Místico de Cristo, a Igreja.

Apesar de tantas contradições que ora experimentamos aqui, dentro de sua estrutura humana, de suas idiossincrasias, a Igreja é realidade que brota do lado de Cristo, em favor do homem, de cada homem, do homem uno, reconciliado, pacificado no amor. Fala-se tanto de ecumenismo, de diálogo, de uma série de ações a serem feitas aqui e acolá e se esquece tanto que, assim como a Igreja é de Deus, o ecumenismo é também uma ação de Deus. A Igreja, em todas a sua vivência, também na ecumênica, é como uma rosa, uma flor que desabrocha dia após dia, segundo o tempo daquele para quem não tempo, e que contém todo o tempo. Não sou eu, não somos nós que iremos fazer o botão florescer a fim da força. A força, tantas vezes usada, despetalará o botão e há de comprometer sua beleza para os que estão vendo-a de fora.

Tantas vezes isso aconteceu. Tantas vezes isso acontece. O Santo Padre, Bento XVI, no início de seu pontificado, recordo como hoje, disse: “meu programa de governo é o de estar à escuta, fazendo a vontade dAquele que não fez a sua vontade”. Hoje, encontrando cenas como essa, o retorno de meio milhão de anglicanos, não posso deixar de lembrar dessas palavras e comover-me profundamente. Se por um lado, vamos continuar precisando aprender a nos acolher uns aos outros aqui dentro, esquecendo todos os rótulos que possamos nos dar uns aos outros, seja de progressistas, seja de tradicionalistas, triunfalistas, e todos os “istas”, por outro, como diz o Salmo 132, “como é bom, como é suave, ver os irmãos vivendo juntos, bem unidos”. Sim, é bom ver que os povos que outrora se foram agora querem professar conosco aquela fé que os apóstolos nos deixaram. É bom ver, exatamente com os elementos típicos de como a Tradição os formou ao longo dos séculos, deixando-os intactos, que o altar em torno do qual se reúnem é o mesmo que o nosso, o sacrifício que lhes redime a eles, é o mesmo que nos redime também.

Mas a beleza do gesto de Bento XVI está justamente no fato de “ouvi-lO”, de fazer a vontade de um Outro. Pastor para todos, sinal de unidade para os fiéis cristãos, Bento XVI assume o papel de quem é o administrador prudente, a quem o Senhor confiou sua família, para lhes dar o pão a seu tempo, conforme lembra o Evangelho de hoje (Lc 12,42). Não foi sua erudição acadêmica, não foram seus títulos honoris causa, não foram suas honras e cursos, palestras ou livros, que assim o levaram a fazer. Lembro-me de Cristo dizendo a Pedro: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um homem que te revelou isso, mas o meu Pai que está nos céus”. Tantos eruditos, tantos “homens de igreja” quiseram fazer o ecumenismo a seu modo, e a única coisa que conseguiram fazer foi levar seu povo à apostasia, a abandonar a fé pura e simples no Cristo. Lembram-se do caso dos lefebvrianos, acontecido no começo do ano? A quase totalidade do Colégio Universal dos Bispos quis devorá-lo vivo por admiti-los à fé. No dia 10 de março, Sua Santidade deu o devido puxão de orelha. Não tenho nada com eles, não fazem meu estilo, não sou da escola deles, mas de uma coisa não posso esquecer, como o Papa não esqueceu: eles são meus irmãos, filhos de Deus. Se estavam excomungados, era necessário que buscá-los, ouvi-los, falar-lhes, fazer todo o esforço possível para que voltassem a comungar conosco, se conservam a fé pura e simples do Evangelho. Lembrem do filho que foge de casa, do filho pródigo. Nesta semana, vimos casos de três menores aqui no Brasil que fugiram de casa por motivos os mais diversos. Precisavam ser encontrados, acolhidos, amados, queridos.

Lembram da Summorum Pontificum? Já pude ver, ouvir, ler, meditar e me divertir com as mais diversas interpretações da atitude do Santo Padre em escrever o Motu Proprio que autoriza qualquer sacerdote celebrar a Santa Missa pelo Missal de 1962, editado pelo Bv. João XXIII, após revisão do Concílio de Trento (séc. XVI) e a mais antiga elaboração por São Gregório Magno (séc. VI), sem qualquer outra autorização prévia. Confesso que tenho minhas preferências pelo Missal de 1970, a forma ordinária do Rito Latino, publicado após o Concílio Vaticano II, pelo Servo de Deus Paulo VI, usado devidamente, conforme a simbologia para a qual as rubricas apontam. Na verdade, apontam porque bebem das fontes dos Missais e Sacramentários antigos. Se por um lado, o Missal de 1962 traz de volta significantes eloqüentes da adoração, do sacerdócio, do sacrifício (assim também acontece com o Missal Anglicano antigo, que continuará sendo usado pelos nossos irmãos recém-acolhidos), por outro, a Palavra de Deus é lida e meditada sistematicamente nos textos atuais, há um acolhimento de elementos da Tradição Oriental e abre-se possibilidade para concelebrações e outros pontos que são uma vitória. Mas não é menos verdade que a Divina Liturgia de São João Crisóstomo valoriza os elementos místicos, uma simbologia forte, de sons, imagens, perfumes, palavras. Lembram aquela liturgia solene do Apocalipse. Ao publicar o Motu proprio, quis dar um passo atrás, com aqueles que não caminharam adiante, e questionou os que foram adiante por não prestarem atenção no porquê aqueles irmãos estavam encurralados. Foi isso que irritou o clero e preocupou a outros: ele foi pastor de verdade.

E ao dar um passo atrás, embora 90% do clero católico romano ter se irritado ou preocupado com a atitude do Papa, que não retira nada do que se tem hoje, ao contrário, só acrescenta, o Papa recebeu elogios de alguém inesperado: o Patriarca Ortodoxo Kiril I, de Moscou. Até aqui, Moscou nunca havia se pronunciado tão fortemente em favor de Roma como nesse momento. E, apesar também de suas idiossincrasias, que não são fáceis, intuo um motivo: o Papa não está dialogando apenas com as pessoas, especialmente com os cristãos, ao redor do espaço, mas também ao longo do tempo. Gilbert K. Chesterton, na Ortodoxia, obra-prima de sua filosofia contemporânea, lembra de que a Tradição é a única forma de sustentar uma pretensa democracia. E sabem por quê? Porque só ela escuta no tempo e no espaço. Os modernistas gostam de ouvir só o que é de hoje, ouvem a todos, desde que seja hoje; os outros estão mortos. Será isso uma visão do que Jesus diz a interlocutores de outrora: “vossos pais mataram os profetas” e “andais sobre túmulos”? Será essa a medida da arrogância de nossos tempos? Será tão grande a soberba de achar que nosso tempo tem tantos recursos que já não precisam do que os tempos de outrora nos já disseram?

Pois bem a Ortodoxia Grega e Russa se aproximam hoje ainda mais de Roma por causa desse olhar saudoso, sobre as fontes do cristianismo. É impressionante quanto o mundo islâmico, em seus representantes mais relevantes admira igualmente essa genuinidade dos gestos de Bento XVI. Quando de sua visita à Jordânia, o príncipe daquele país fez menção a esses avanços ao longo do tempo e do espaço. Lembram-se de quando o Papa esteve na Alemanha, na Universidade de Regensburg, em Ratisbona, e, sem medo de imprensa nenhuma falou de fé e razão? A imprensa jogou no ventilador as preciosas palavras de Bento XVI, semeou o joio e fez o mundo islâmico se irar contra o Ocidente, porque, segundo ela, o Papa tinha dito que os muçulmanos eram irracionais porque faziam guerra em nome da fé. Não havia sido nada disso; muito mais: ele lembrou de que no século XIV um monarca cristão intelectual, Manuel, o Paleólogo, dialogava com um muçulmano (comum naquela época!) dizendo que a razão estava a favor de que a violência jamais se justifica com a fé. Mas, mal que veio para bem, o Papa se reuiniu com 138 intelectuais islâmicos, entre eles o príncipe da Jordânia, para levar esse diálogo adiante. Em breve, Bento XVI irá a mais uma sinagoga, esta em Roma, sentir com os judeus os anseios pela vinda do Messias. Eles não o viram, mas muitos deles ainda querem vê-lo (como os gregos de outrora, que pediram a São Filipe: “queremos ver Jesus”, os judeus querem ver o Messias), embora o Papa coma e beba o seu Corpo e o seu Sangue todos os dias. “Virão a ti nações de longe...” Como disse o próprio Papa Bento XVI, na Catedral da Sé, em maio de 2007: "o cristianismo cresce por atração, não por proselitismo".

Quão belo é ler Olivier Clément, teólogo ortodoxo do século XX falando das fontes do cristianismo (Fontes, Ed. Subiaco, Juiz de Fora), da catequese, da teologia mística dos primeiros oito séculos do cristianismo, onde éramos, sim, minoria, mas não estávamos nem um pouco preocupados com isso. Apenas era necessário anunciar o Evangelho sempre, a toda criatura, transparecê-lo em nós por inteiro, para que se despertassem as consciências de que “aquela Beleza sempre Antiga e tão Nova” nos fala no hoje, no agora de nosso ser. Era um cristianismo despretensioso, sem estratégias, apesar de nunca fugir da mística, estratégia de buscar a Deus; sem militância, apesar de nunca negar a fé e até o sangue se assim lhe fosse pedido. Ali, todos éramos um. Um fato como esse acabou por atrair muita gente. Foi quando enfiamos o pé numa ideologia chamada “agostinismo político”, ou seja, a idéia de que todo ser humano tinha necessariamente de ser cristão, que se perdeu o rumo, Ocidente já era incapaz de dialogar com Oriente, mística e esoterismo eram postos no mesmo saco, o canto e a arte sacra deram lugar a degringolações litúrgicas, e o próprio Ocidente começou a não mais se conter, aparecendo reforma luterana aqui, calvinista ali, anglicana acolá. Depois vieram outras ideologias, e do século XX para cá, o fracasso do agostinismo político deu lugar a duas possibilidades: o retorno a Deus ou a entrega às ideologias do mundo, mesmo que subjacentes em discretos e pequenos gestos, que dessacralizam a vida e o cristianismo. Como nunca, a vida é desvalorizada com palavras que dizem o contrário. E isso acontece justo no momento em que o cristianismo sofre o mesmo. Olhemos para a cruz! Lá está Deus; lá está o homem. “Eis o homem”, diz Pilatos. “Na verdade, este homem era o Filho de Deus”, diz o centurião, o último dos subordinados de Pilatos. Lá, essas duas realidades se encontram.

Nunca vivi naquele tempo, mas a Catequese de nossos Santos Patriarcas nos dão um gosto de uma saudade de algo que ainda não vimos. Porque esses homens experimentavam Deus em espírito e verdade. Sonho, rezo, opero para que em mim Deus seja verdade. Talvez esteja longe disso, mas estou a caminho. Sonho, rezo, opero para que nossa Igreja continue a escancarar ainda mais a porta para Cristo, parafraseando o Servo de Deus João Paulo II, também no seu discurso de início de pontificado, nos idos 1978, de tal modo a acomodar em si todas essas realidades, pessoas e universos. Para essa fala, São Bento usa da palavra do Salmo 118: “dilatar o coração”. Afinal, o que é a fé, senão a possibilidade de conciliar o inconciliável? Se somos homens de fé, deixemos que ela aja em nós, para que todas as coisas em Cristo sejam recapituladas, a começar de nós. Não seria isso que o gesto profético do Bv. João XXIII ao abrir o Concílio Vaticano II quis dizer, quando convocava todos os cristãos, a começar pelos bispos conciliares, à conversão? “Peçamos a Deus a graça da conversão!”

Com eles, com nossos irmãos anglicanos-católicos, possamos nos converter, possamos admirar a ação de nosso Deus que manifesta sinais maravilhosos em sua Igreja, mostrando que ela não está à deriva, apesar de tantas vezes termos motivos humanos de pensar o contrário. A presença do Espírito Santo garante a sua força renovadora em seus dons e primícias.

Com Tobias, continuo a dizer: “Ó minh'alma, vem, bendize ao Senhor, o grande Rei, pois será reconstruída sua casa em Sião, que para sempre há de ficar pelos séculos, sem fim” (Tb 13, 16). Amém!
Emerson Sarmento Gonçalves

sábado, 31 de janeiro de 2009

Algumas ponderações sobre a essência da Santa Missa

Foram algumas colocações minhas num debate eletrônico. Penso que possa ser edificante para alguns e por isso envio abaixo algumas ponderações sobre o Santo Sacrifício da Missa. Caso eu incorra em algum erro doutrinal, por caridade, transmita-me e corrija-me. Apenas deixo aqui um pouco do que a Igreja sente e celebra ao longo dos séculos e um pouco do que experimento ao longo dos dias de minha vida.

Ao paciente amigo e leitor, uma boa leitura e bom fim de semana!
____________________________________________________________________

O desejo de retornar às fontes não exime a própria Igreja de se remeter a toda a sua história. Gosto quando uso a palavra símbolo, mas ela é pessimamente compreendida no Brasil. Do grego syn + bolon, ao pé da letra seria: do mesmo lado da realidade. Ou seja, o símbolo é a realidade transmitida de forma velada, insere quem o contempla nela. É o contrário de dia + bolon, do lado oposto à realidade, termo próprio a Satanás, que, do hebraico (shatan) quer dizer obstáculo. Pronto, as espécies consagradas abrem o olhar do fiel para SÓ ver nela Cristo. Escatologicamente falando, esse é nosso FIM: Ele será tudo em todos. Aí certos teólogos não verão problema em falar de transubstanciação.

Repito, como já fiz antes, nem Trento rompeu com os Padres, nem o Vaticano II rompeu com Trento. É importante lembrar que toda a celebração Eucarística é adoração, mas há um ápice inegável no momento da consagração e especialmente no momento da comunhão. Os sagrados concílios ressaltam sempre que a Eucaristia é o memorial do sacrifício de Cristo, ou seja, este sacrifício acontece ali, no altar, de forma a que o fiel entre nessa realidade, na medida em que ele deixou que ela entrasse em si. Isso é a comunhão. Trento precisou dar respostas precisas a uma época em que a presença real de Cristo estava sendo generalizadamente questionada. Mas, pergunto-me: essa coisa de ruptura não está fazendo voltar essas ilusões? Será à toa que sabiamente pubicou o Motu Próprio Summorum Pontificum? Quem já foi à Divina Liturgia de São João Crisóstomo (rito oriental) já viu a riqueza simbólica com a qual o Mistério é cercado e ao mesmo tempo manifesto. E é um rito com cerca de 1500 anos, tendo sofrido pouquíssimas alterações.O interessante é que muitos irmãos, católicos ocidentais, acham maravilhoso ir a uma Missa em Rito Oriental (onde se usa grego e árabe) e têm pavor de ouvor falar em latim. As diversas semelhanças entre o rito de São João Crisóstomo e São Pio V não são mera coincidência.

Quem já foi a ambas já viu as semelhanças, bem como as diferenças. Uma coisa é certa: os Ritos de São Pio V e de São João Crisóstomo não dão espaço para invenções. O senso de Mistério é incondiconalmente preservado. No Novus Ordo, depende de quem celebra.Com isso, quero antes deixar muito claro que não sou contrário ao Novus Ordo, muito pelo contrário! Penso que deve ser celebrado com sua máxima dignidade e solenidade, mantida, porém, a incondicionabilidade do Mistério, independente de quem celebra. Porque se trata de uma questão muito simples: é rito.RITO é uma palavra de origem latina que significa "algo que se repete". É natural do rito ser repetitivo em sua estrutura. E por que o aspecto repetitivo? Porque estamos celebrando a mesma Realidade ... sempre. Se minhas subjetividades ou os elementos do inconsciente (ou consciente) coletivo começam a ocupar algum lugar no rito, ele já não é mais rito, ou, ao menos, não é AQUELE rito. Talvez seja um parêntese dentro do rito, mas quebra sua estrutura, seu modo de ser rito.Pois bem, a repetitividade, a rotina do rito tem um valor preciosíssimo: É simplesmente aquele Cristo que, qual Esposo, "desponta no céu e se levanta" todos os dias para a sua Esposa, a Igreja. É na rotina do dia após dia que uma família vai encontrando a sua identidade. É no amor que supera toda rotina diária e que a sustenta e até mesmo a enche de surpresa em pequenos sinais (no rito, poderiam ser as memórias e festas, por exemplo), que uma família vai aprendendo a ser escola de ser gente. Igualmente, o respeito ao rito vai sendo uma escola de cristãos.Um rito que vai sendo impregnado de invenções lembra aquelas famílias que já não vêem mais graça em si mesmas e ficam tendo que inventar passeios, festas, encontros (e até coisas de calão tão baixo que não são de bom tom reproduzir aqui) para ver se sustentam a união. É preciso reconhecer o Cristo na simplicidade do rito e na solenidade que ele traz em si (não em nós). Simples na rotina; solene na dignidade. É o Esposo, que sai para o trabalho cada dia (Sl 103), lembrando o sacrifício, e volta à tarde, como quando encontrou os discípúlos de Emaús, para a refeição. Mas veja, a refeição acontece em decorrência do sacrifício. Sem o sacrifício, não há refeição. E essa é lei natural antes de ser lei da graça. Afinal de contas, não é São Paulo que diz: "quem não quer trabalhar também não deve comer"?
Assim é o rito! Paciência! Caso contrário, é outro rito (que não o latino) ou até mesmo outra coisa.

Sobre a questão da Liturgia da Palavra e da Liturgia Sacramental, penso ser importante dizer algumas palavras. Houve uma vez que uma crismanda me disse que o padre que lhe atendeu disse que o valor da celebração da Palavra e da Missa era o mesmo (!!!). Bem, vamos lá!

Na Liturgia dos Catecúmenos ou da Palavra, o ápice é a PALAVRA (rema) de Cristo; na Liturgia dos Fiéis ou Eucarística, o ápice é a PESSOA (hypostasis) de Cristo, ou seja, Ele mesmo, como Palavra (o termo grego agora é diferente: Logos), que se fez CARNE (sarx, ou seja a totalidade da fragilidade humana) e habitou entre nós.Caro irmão, por caridade, lembre-se de Lc 24: quando Jesus ressuscitado explicou as Escrituras aos discípulos no caminho de Emaús, de fato, aconteceu algo na vida deles: seu coração aqueceu. Ou seja, a frieza que traziam por causa da morte de suas esperanças foi aquecida por Aquele que lhes falava, mas... eles não o reconheciam. Quando foi que o reconheceram? Ou melhorando a pergunta, quando foi que houve o encontro pessoal?Pois bem, agora, este encontro pessoal possibilita a compreensão do sacrifício de Cristo como redentor. Veja bem, este sacrifício é algo muito grande na vida daqueles discípulos: foi o momento de rever todas as suas esperanças. Deus realmente abandona o justo? Israel era ainda amado por Deus? E de nós, que fazemos parte dessas esperanças, que restará?Na Palavra, Jesus dá o tom desse sacrifício, relendo a Lei e os Profetas. Um sentido de uma esperança inaudita aquece os corações dos discípulos. Mas quando Jesus toma o pão, dá graças e o parte, o sacrifício, que tanto lhes havia marcado, recebe dentro de suas vidas um sentido: Ele vive, e não obstante a crueza e a realidade do sacrifício há uma Realidade que lhe dá suporte, porque o Sacrificado vive, Ressuscitado. Entende?Em outras palavras, a Eucaristização do momento é a Ressurreição do Verbo encarnado e morto como homem. Para essa percepção, é necessária a Eucaristia. E a Eucaristia como sacrifício sim, porque esse sacrifício se manifesta aí não como uma matança cruel, mas como manifestação do poder de Deus, desde ir até o mais profundo dos infernos, onde nem o diabo chega, até os céus mais altos que nem os anjos conhecem.

Por outro lado, a Missa é sacrifício do começo ao fim, e a própria Liturgia Catecumenal pode e deve ser compreendida como sacrifício. Há uma imolação ali. Percebe?Se não, começo por um fato filosófico. A quem os filósofos dão o nome de Deus? Ao incognoscível, ao inefável, ao sempre mais para além. E, de fato, o é. Grandes teólogos de nossa fé trabalharam na linha do apofatismo em função desses "atributos" de Deus: por exemplo, São Dionísio Areopagita, São Cirilo de Alexandria, São Gregório de Nissa, Johannes Tauler, Mestre Eckhart e São João da Cruz. A própria tradição judaica não admite que se pronuncie o nome de Deus (a nossa também não, a despeito de muitos liturgistas de plantão!). Mas o próprio Deus usa como quer de sua incognoscibilidade: Ele se dá a conhecer. E o primeiro modo de se dar a conhecer é através da criação: seus sinais, na natureza, são como ritos em sua homenagem. Dia após dia, o sol nasce, atige o zenit e se põe. A lua tem seus ciclos, quase como rituais, e a nossa vida na terra só é preservada pela repetitividade desses "rituais". As estações do ano, os ciclos marítimos, os relevos mais ou menos irregulares, como peças de canto gregoriano. Tudo isso nos fala desse Deus. De certo modo, aqui Ele renuncia em certa medida sua incognoscibilidade. O segundo modo foi testemunhado pelos filhos de Israel: a Lei dada a Moisés no Sinai. Nome hebraico: Torah. Era como que um conjunto de ensinamentos para que, alcançando a terra, o povo vivesse. Deus vai renunciando sua intocabilidade na medida que oferece meios de vida ao homem. Depois, esse mesmo povo terá os profetas. Agora, não são apenas códices, mas pessoas que experimentam de forma singular a viver com esse Deus para orientar caminhos do povo do qual fazem parte. A essa "contração" dos atributos tidos como divinos, a tradição mística judaica chama de tzimtzum.Agora, não houve movimento de contratura maior do que quando Deus se fez carne. E isso só o testemunham os cristãos. Para um judeu, isso é um escândalo.

Veja que até aqui, Deus se manifesta nas palavras: a Lei e os Profetas. Essa contratura, essa renúncia à total incognoscibilidade é um grande sacrifício, sacrifício em forma de Palavra. A Liturgia da Palavra realiza esse sacrifícioAgora, a contratura máxima de Deus acontece na sua hominzação. Sem deixar de ser Deus, sem deixar de ser ainda o incognoscível, o Santo, Aquele que É, agora toca e pode ser tocado, fala e pode ser ouvido, cura, perdoa, ressucita os mortos. Isso já seria um grande sacrifício de nosso Deus. Como se não bastasse, assume a identidade do pior entre os piores, e vai, Ele mesmo, onde jaz Adão, onde jaz cada homem, e junto a ele recebe o Espírito Santo. Agora, acontece algo inaudito, e isso sim é a incognoscibilidade da incognoscibilidade: o homem se torna filho de Deus. O homem se torna Deus por adoção, porque o Nome dAquele que lhe salvou lhe foi dado. A vitória dEle é a vitória do homem. Nisso, é que se tornam comensais. E somente mediante tamanho sacrifício da Divindade, por iniciativa própria é que se torna possível essa comensalidade, essa familiaridade. Em rito grego ou latino, copta ou caldeu, malabar ou malankar, siríaco ou moçárabe, galicano ou ambrosiano, essa é a consistência da Liturgia dos Fiéis ou Eucarística.A Eucaristia é a Ação de Graças sobre esse fenômeno inaudito: Deus se fez nada, como o homem, para que o homem, essa erva, essa vela fumegante, essa cana rachada, esse quase nada se tornasse Deus.Se os liturgistas deixassem seu plantão, poderiam ter mais espaço e tempo para rezarem sobre esse Mistério em cada passo de suas vidas. E deixariam a Sagrada Liturgia intocada, sagrada, santa, como ela é, deixando que Deus revele apenas tudo aquilo que deseja revelar, esse amor incompreensível, que, ao mesmo tempo que ansiamos, não somos capazes de realizar. Se não for a ação de cada uma das Santas Missas, a vida do homem se reduz ao cinza que vemos na sociedade hodierna, sem esperança, sem Deus, sem vida.

Eis a presença real de Cristo!!! Não há outra mais intensa antes da manifestação plena de sua glória. Que aconteça em nossa vida, em nosso coração.Curioso, não? Contratura de Deus... São Paulo usou o termo grego kénosis. Não é à toa que Zacarias disse quando do nascimento de São João Batista e nós ritualmente as repetimos no Ofício de Laudes, todas as manhãs: "graças ao entranhado amor de nosso Deus, o Sol nascente nos veio visitar!" O Sol nascente é Cristo!!! A contratura se deu nas entranhas da natureza divina, quando Cristo se manifestou da Encarnação à efusão do Espírito Santo. É o que acontece em cada Santa Missa!Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, por cada uma delas!!!

Emerson Sarmento Gonçalves, na III Semana Comum do AD de 2009.