sábado, 26 de março de 2011

Coragem, eu venci o mundo

Na parte superior do blog consta um ícone de São João Evangelista sobre o lado do Senhor. Bento XVI comenta essa passagem em seu novo livro "Jesus de Nazaré". Queria comentar brevemente, conforme foi lembrado há poucos dias, que coragem vem do latim cor agere, agir com o coração, algo que invade nossa vida profundamente e impulsiona para a meta, Cristo. Ele inicia tudo, Ele nos move, Ele é nosso Fim.

A coragem é componente intrínseca da epectase.

Jesus de Nazaré - Bento XVI

Caros amigos, tenho a alegria de poder já estar lendo o segundo volume desta grandiosa e belíssima obra, lançada no último dia 10, logo no início da Quaresma. Com isso, a seu tempo, irei postar alguns comentários a algumas passagens sublimes que já encontrei e assim reativamos o blog, nesta ”Entrada em Jerusalém até a Ressurreição”, e simultaneamente compartilharemos algo em preparação para a Santa Páscoa. Usarei os extratos do livro em sua edição portuguesa (Ed. Principia), já que no Brasil será lançado mais adiante, se Deus quiser.




Inicio com um comentário breve acerca do primeiro capítulo que trata da entrada de Jerusalém e da purificação do Templo. De fato, Jerusalém é o desejo de Jesus. Ele havia endurecido o rosto, de forma decidida, com o objetivo de chegar a Jerusalém. Jerusalém significa "visão de paz". É lá onde se celebravam as grandes festas judaicas, a Festa da Purificação, a Festa das Tendas, a Festa dos Ázimos e sobretudo a Festa da Páscoa. Todas elas são objeto de exploração teológica e meditação espiritual do Santo Padre. Também elas estão em íntima conexão com as palavras e os gestos de Jesus, no sentido de que, dando-lhe um novo olhar, um novo significado, prepara e soleniza sua entrega ritualizada nos Sacramentos de nossa fé católica.

O comentário a tecer é sobre o seguinte extrato, quando de sua entrada em Jerusalém. Os que vinham de Jericó, entrando na Cidade Santa veneravam aquele que tinha curado o cego como Messias, descendente de Davi, Rei de Israel, dizendo, entre tantos termos típicos, o vocábulo "Hosana!". Escreve o Santo Padre:

"Vejamos primeiro a exclamação 'Hosana!'. Originalmente. era uma expressão de súplica, como "Oh! Ajudai-nos!". No sétimo dia da Festa dos Tabernáculos, enquanto davam sete voltas em torno do altar do incenso, os sacerdotes repetiam-na de forma monótona, como súplica para terem chuva. Mas, dado que a Festa dos Tabernáculos se transformoude festa de súplica numa festa de alegria, a súplica foi se tornando cada vez mais uma exclamação de júbilo.

Provavelmente, no tempo de Jesus, a palavra já tinha assumido também um significado messiânico. Deste modo podemos reconhecer na exclamação 'Hosana!' uma expressão dos variados sentimentos quer dos peregrinos que foram com Jesus, quer dos seus discípulos: um jubilosos louvor a Deus no momento daquela entrada; a esperança de que tivesse chegado a hora do Messias e, ao mesmo tempo, uma súplica para que se realizasse de novo o Reino de Davi e, com ele, o reino de Deus sobre Israel."

Primeiramente a expressão 'Hosana!'. É uma expressão típica de quem espera, seja a de quem lamenta suas contingências, seja a de quem se alegra na ação histórica de Deus. O fato é que, no tempo de Jesus, a expressão tem caráter de esperança messiânica, algo que carrega em si um tom sóbrio e solene. Sóbrio porque Aquele Filho de Davi vem montado num jumento e não num cavalo, como seria de se esperar de grandes reis. Ele vem ainda de maneira velada, sob o aspecto de servo. Meditaremos essa entada no Domingo de Ramos. Baste para nós, por enquanto, o fato de sua sobriedade se dever a uma manifestação revelada até onde o Senhor o quis, mas velada para além de seus arcanos em tudo aquilo que nós, e mesmo os apóstolos e os demais discípulos, e, por assim dizer, o povo de Jerusalém com seus chefes políticos e religiosos, poderiam apreender.  Eis uma entrada misteriosa, solene, porque associada à entrada do Rei, porém assim mesmo cercada de Mistério porque Ele carrega algo que ainda não conhecemos em sua completude.

Para falar a verdade, a consciência que poderíamos ter a partir de uma tal visão é a de que palavras com 'Hosana' deveriam ser entoadas sempre no mais profundo senso de Mistério. Da mesma forma que a partir daquele momento de outrora dado em Jerusalém, a Entrada de Jesus em nossas fortalezas, em nossa história tão renitentemente resistente, é algo que se dá dentro de uma atmosfera mistérica. Cabe pronunciarmos essas palavras, ajoelharmo-nos e adorá-lO, em súplica em ação de graças.

Até breve! Uma Santa Quaresma para você, caro leitor!