Convertei-vos a Mim de todo o vosso coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos. Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes, convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia. Quem sabe? Talvez Ele mude de ideia e volte atrás, deixando, ao passar, alguma bênção, para oferenda e libação ao Senhor vosso Deus!
Meus caros, iniciamos o Santo Tempo da Quaresma. Ontem, na Quarta-feira de Cinzas, chamou-me muita atenção a passagem da Profecia de Joel. Isaías, Jeremias e os Salmos já haviam manifestado que o sacrifício que agrada a Deus não é o sacrifício de substituição; somente a morte do homem repararia o dano do pecado. Porém, Deus também não deseja isso porque "se tivesse odiado suas obras não as teria criado". Misteriosamente, no tempo dos profetas pós-exílicos, Joel afirma a palavra acima grifada. E Deus foi fiel a ela.
Joel não sabia precisamente do que falava, mas ali estava prefigurado o Cristo, único sacrifício, única oferenda, única libação agradável ao Senhor, nosso Deus. Rasgar os corações, aqui, toma um sentido especialmente novo: é deixar-se penetrar pelos mesmo sentimentos de Cristo Jesus: ele se despiu de sua veste divina para assumir as idumentárias humanas, ou seja, carne, ossos, sangue, angústias, aflições, alegrias, amizades, enfim, uma história. Exatamente: o Eterno resplandeceu na história e se fez História. Assumindo a idumentária humana, sacrificou o que em si era próprio de Deus e revelou ao homem o que era inefável. Isso nos revelava o admirável intercâmbio de dons, para o qual nos interpela o Tempo da Quaresma, ou seja, deixarmos a idumentária humana para assumirmos a divina que nos foi confiada dese a Encarnação do Verbo, e manifesta plenamente na Cruz, quando até a idumentária humana de Cristo foi retirada, até a entrega do Espírito.
Rasgai o coração... as vestes do coração, para que se dilate e assuma em si a idumentária divina, aquela para a qual apontavam as vestes brancas do nosso Batismo.
Santa Quaresma!