sábado, 7 de abril de 2012

"Surréxit Christus, spes mea!" - "Ressurgiu minha esperança, Cristo!"


Queria dirigir a todos uma palavra sobre a hodierna Páscoa: 

"era necessário que o Cristo sofresse para assim entrar em sua glória". 

O caminho assumido por Deus para o nosso resgate foi o caminho em que acabamos caindo por causa de nossos pecados. Poderia ser outro, mas o quis assim para que tivéssemos como segui-lo. Foi um caminho humano, por excelência, carregando em si uma pedagogia que não nos anulasse, mas, ao contrário, levasse em consideração a nossa fraqueza e nossa condição desastrosa.
 
Mais ainda, foi o caminho em que assumiu Ele mesmo se anular, em certo e misterioso sentido, para percebermos algo da incomensurável nulidade, vacuidade, vaidade e caducidade que havia dentro de nós.
Creio, pois firmemente, hoje, nesta Páscoa de 2012, que foi ao deixar que Ele entrasse em minha vacuidade, murmurações, quedas, feridas abertas, tentações, angústias, lágrimas, dificuldades e provações as mais diversas, que pude experimentar mais um pouco da força de seu Mistério, de sua entrada neste mundo, em minha vida até a raiz, desvelando algo mais do livro selado de minha existência aos meus próprios olhos, aos olhos do coração, olhos da alma. Se não consegui segui-lo e ser fiel em tudo, Ele o sabe. Sabe-o mais do que eu, embora por essa radical entrada me desafie sempre mais a que eu mesmo o saiba e possa ser transformado por esse diálogo proporcionado por pura e graciosa iniciativa dEle, desde dentro do diálogo intratrinitário que acontece na eternidade. E quem, até mesmo entre os filósofos, poderia esperar tão grande Mistério, eles perscrutadores de tantos mistérios?

Não é à toa que posso hoje chamar a Cristo de meu, posso não porque o tomei, mas porque, de algum modo, Ele me tomou. Sua benevolência, sua (tão paradoxal) magnificência, sua paciência para comigo, ao carregar minha cruz, ao morrer onde morro e já não sou mais o eu sonhado pelo Pai do céu, o eu verdadeiro, e, no seu eterno vínculo com o Pai do céu, o Espírito Santo, me levar, de cativo ao alto (cf. Sl 67), pelo grandioso Mistério da Ressurreição, enche-me de santa esperança, e me leva cantar o Aleluia ao varar esta Noite que se inicia. Quando eu ver aquela lua cheia brilhando hoje, aquele círio aceso, as velas acesas em nossas mãos, poderei renovar a certeza de fé que me move para adiante em meio aos percalços da vida, aquilo mesmo que o discípulo amado diz no prólogo de seu Evangelho: "a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la". Sim, porque a luz tem mais direito que as trevas...

Poderei, ainda, ao ouvir o Exultet, o Santo Precônio desta noite, que os anjos cantam conosco e que as criaturas do céu e da terra estarão em uníssono e , ainda que em esperança, de esperança em esperança, podem sonhar com o Dia Eterno em que, para além do que podemos ver, ouvir, pensar, planejar, Cristo, imolado por nós, será tudo em todos.
Assim, e por isso, meu caro irmão, minha cara irmã, não pude resistir em expor aqui meus sentimentos às portas da Páscoa. Quero colocar cada um de vocês no Aleluia que sairá de meus lábios. Quiçá cantemos todos o Aleluia, porque eterna é a misericórdia, a caridade, o amor de Nosso Deus, manifesto em Nosso Senhor Jesus Cristo. De fato, Ele nos cativou, como lembrava uma das antífonas da tarde de ontem, Sexta-feira Santa, em alegre modo gregoriano VIII: “o fruto da vida nos atraiu”.

A Ele, Alfa e Omega, Princípio e Fim, a honra, a glória e o louvor, o poder e a salvação, ontem, hoje e sempre, por toda a eternidade, pelos séculos dos séculos. Amém!
E a você, meu caro irmão, minha cara irmã, o desejo, do fundo do coração, de uma Santa e Feliz Páscoa, nEle!

Nenhum comentário: